Conseguir fazê-lo exige aprendizagem e dedicação, mas se souber o que caracteriza cada casta, mais depressa vai reconhecê-la no vinho que beber. Confira algumas das castas mais comuns em Portugal.
Se é bem verdade que um vinho é muito mais do que apenas as uvas que o compõem — há uma enorme diversidade de outros fatores que influenciam o que nos chega ao copo, como o clima, o solo e a arte da vindima e da vinificação —, não é menos verdade que as uvas são, afinal, o seu único ingrediente. E por essa razão, compreende-se que concentrem tantas atenções. São milhares as castas identificadas no mundo inteiro, sendo que Portugal, apesar da área reduzida, é um dos países que maior quantidade de castas autóctones possui: quase 300 variedades de uvas indígenas — únicas e exclusivas —, o que é matéria mais do que suficiente para muitos tratados e compêndios sobre o assunto.
A casta ou castas que constituem um vinho são uma das dimensões a que os conhecedores mais importância atribuem, já que cada uma possui um sabor e características muito específicos. Aquilo que por vezes se designa como a personalidade de um vinho resulta, pois, em larga medida, das castas usadas, da combinação realizada e das quantidades de cada casta presente, numa alquimia cujos resultados são quase sempre uma surpresa, mesmo para os enólogos mais experientes.
Conseguir detetar as variedades de uvas utilizadas em cada vinho é quase uma arte, implicando uma longa e constante aprendizagem. Para ajudar no primeiro passo, resumimos as características de algumas das principais castas existentes em Portugal. E ainda lhe deixamos algumas sugestões de vinhos em que as pode encontrar para melhor saborear e perceber o que as diferencia.
Castas Tintas
Touriga Nacional
Casta — É cultivada de norte a sul e considerada uma das mais nobres e representativas castas portuguesas de tão apreciada que é. Mesmo lá fora, não é raro vê-la integrar rankings a competir lado a lado com pesos-pesados internacionais. As regiões do Dão e Douro dizem-se mães desta variedade de uva, que se adapta bem a todos os tipos de solo, embora necessite de elevada exposição solar e calor.
Prova — Vinhos intensos e profundos, daqueles que nunca desiludem, caracterizando-se por uma elevada complexidade e qualidade. Por vezes frutados, florais ou cítricos, são geralmente vinhos equilibrados, com boa graduação alcoólica e com excelente potencial de envelhecimento.
Sugestão — Herdade de São Miguel Touriga Nacional, de Casa Relvas. Este é um vinho produzido exclusivamente com Touriga Nacional, pelo que permite perceber bem as características da casta.
Trincadeira
Casta — Conhecida por outros nomes no país, nomeadamente por Tinta-Amarela, é uma casta que os produtores amam ou odeiam, diz quem sabe do assunto. Adapta-se bem a regiões quentes, razão por que a secura do Alentejo lhe assenta tão bem, encontrando-se igualmente com vigor no Douro e nalgumas partes do Ribatejo, entre outras. Prefere solos de baixa fertilidade e com textura fraca ou arenosa, assim como secos ou bem drenados.
Prova — Contribui para vinhos aromáticos e frutados, por vezes florais e eventualmente com notas vegetais. A acidez e a cor intensa são também características destes vinhos que, na boca, se apresentam geralmente macios e remetendo para notas idênticas ao aroma.
Sugestão — Herdade de São Miguel Pé de Mãe, de Casa Relvas, é o vinho ideal para conseguir distinguir os taninos suaves da Trincadeira.
Alfrocheiro
Casta — A região do Dão é o seu território natural, mas porque se adapta bem a qualquer tipo de poda, acabou por se espalhar para sul, nomeadamente para o Alentejo, onde hoje está bem presente. Casta muito fértil e vigorosa, caracteriza-se pela cor intensa que empresta aos vinhos e, por isso, há quem lhe chame Alfrocheiro Preto.
Prova — Vinhos com forte aroma a morango, amora e bagas silvestres, caracterizam-se pela acidez elevada e um bom equilíbrio entre álcool e taninos firmes, mas elegantes.
Sugestão — Herdade de São Miguel Alfrocheiro, de Casa Relvas. Monocasta ideal para apreender o equilíbrio desta variedade portuguesa de uvas.
Alicante Bouschet
Casta — Apesar de ser francesa, esta é uma casta muito frequente em Portugal, quase sendo assumida como portuguesa, tal é o seu uso entre nós, sobretudo no Alentejo. É uma das poucas castas tintureiras existentes, o que significa que tanto a polpa como a casca são de cores tintas escuras, contribuindo para vinhos marcados pela cor intensa.
Prova — O aroma remete para frutos silvestres, vegetais, eucalipto, cacau e azeitona, sendo uma casta que se destaca por conferir estrutura, firmeza e muita cor aos vinhos, que, em regra, integram outras castas.
Sugestão — Herdade de São Miguel Reserva, de Casa Relvas. Vinho com elevada percentagem desta casta que merece ser apreciada e identificada, dada a presença em tantos vinhos produzidos no nosso país.
Castas Brancas
Arinto
Casta — Presente na maior parte das regiões vitivinícolas do país, encontra em Bucelas o seu auge, caracterizando os vinhos desta Denominação de Origem Protegida (DOP). No Alentejo e Ribatejo, faz-se sentir forte também, garantindo a acidez necessária e nem sempre fácil de obter. É igualmente conhecida por Pedernã, entre outras designações.
Prova — Vinhos com marcada acidez e frescura, notando-se acentuados aromas cítricos a maçã verde, lima e limão.
Sugestão — Herdade de São Miguel Esquecido, de Casa Relvas, deixa alcançar a complexidade que caracteriza esta casta.
Antão Vaz
Casta — É também uma casta autóctone, sobretudo plantada no Alentejo, bem como nas regiões de Lisboa e Setúbal. Destaca-se pelo vigor e grande produtividade, sobretudo quando encontra solos profundos, secos e férteis, bem como um clima seco e soalheiro.
Prova — Firmeza e corpo são características dos vinhos com Antão Vaz, pontuados por notas de fruta tropical e casca de tangerina. Elevado teor alcoólico e alguma acidez são também de esperar.
Sugestão — Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada, de Casa Relvas.
Alvarinho
Casta — É uma das castas portuguesas mais originais, responsável por vinhos únicos no mundo, como os produzidos na DOP Vinho Verde, em especial na sub-região de Monção e Melgaço. Dá-se bem em solos derivados do granito.
Prova — Aroma intenso e complexo, com notas florais (flor de laranjeira e erva-cidreira), frutadas (pêssego, limão, maracujá e líchia) e amendoadas. Apresenta uma cor vibrante e elevado teor alcoólico. Tem uma boa capacidade de envelhecimento.
Encruzado
Casta — Considerada a grande casta branca do Dão, é também cultivada na península de Setúbal e no Alentejo. Considerada uma casta produtiva e muito equilibrada, adequa-se bem a vinhos monovarietais, mas não só.
Prova — Qualidade elevada, elegância a toda a prova e aromas complexos são o cartão de boas-vindas destes vinhos, que surpreendem pelo excelente equilíbrio entre açúcar e acidez. Das notas que sobressaem contam-se a pimenta verde, a rosa e a violeta, bem como a pederneira e o limão.
Sugestão — Os vinhos Pimenta Branca ou Montinho de São Miguel, ambos da Casa Relvas, incluem esta casta na sua composição.
A toda a prova
Agora que já domina as características das principais castas produzidas em Portugal, pode seguir as nossas sugestões sobre como organizar uma prova de vinhos entre amigos e aprofundar as suas impressões sobre cada néctar que provar.