Um ano depois de o Expansão ter denunciado o caso publicamente pela primeira vez, o SIC apreendeu 16 imóveis pertencentes a Edson de Oliveira, que foi constituído arguido mas continua a monte. Teve mais do que tempo para preparar a sua saída desta história em que burlou milhares de cidadãos.
Foi há um ano atrás que o Expansão avançou pela primeira vez com a história da Xtagiarious, uma empresa de Edson Caetano de Oliveira, que oferecia juros entre os 20 e os 25% mês aos depositantes, um esquema em pirâmide que mais cedo ou mais tarde, tinha que rebentar. Na altura, nem o BNA nem a CMC tinham conhecimento sobre este assunto, sendo que apenas o BAI tinha tido uma primeira atitude ao bloquear uma das contas da dita empresa por necessidade de explicação de origem dos fundos, que cresciam diariamente.
Recorde-se que na altura o presumível empresário passeava-se pelas televisões como grande “mecenas” da arte e da cultura, tendo inclusive numa entrevista à revista Forbes confirmado que a sua organização já valia 4 mil milhões Kz. Tinha também publicado uma fotografia nas redes sociais com o comandante municipal de Viana da Polícia Nacional, o subcomissário chefe Gabriel Capusso, num desafio de impunidade face à ilegalidade das suas operações.
Na altura, depois de publicada a história, não houve reacções por parte das autoridades policiais, que nos diziam que não tinham qualquer queixa, sendo que nas visitas que fizemos às suas instalações era possível confirmar que estavam lá agentes policiais, mas para proteger o dito empresário e organizar as filas dos cidadãos que estavam à porta. Também o visado, Edson Caetano de Oliveira, negou a nossa história, tendo ameaçado uma das jornalistas do Expansão, .
Pouco tempo depois começaram as falhar os pagamentos, tal como já tínhamos previsto a 6 de Agosto de 2021, e então apareceram os primeiros descontentes com vontade de recuperar o seu dinheiro, tendo o Expansão acompanhado durantes meses esta história sem que as autoridades oficiais tomassem qualquer iniciativa de fechar as instalações da Xtagiarious, evitando que mais cidadãos fossem lesados.
Acrescente-se que quando começaram as manifestações dos primeiros descontentes, Edson Caetano de Oliveira continua a negar que não pagava e publicou uma foto à porta do BNA, sugerindo que teria havido um entendimento entre a sua organização e o banco central. O que foi rapidamente negado pelo governador José de Lima Massano.
A 26 de Novembro do ano passado, já com muitos descontentes a falar nas redes sociais, o Expansão noticiou que o empresário tinha tido uma reunião com os clientes e que tinha garantido que pagava todos os valores em atraso até 15 de Dezembro, uma vez que havia a informação que continuava com contas activas em alguns bancos, nomeadamente o BFA e o Banco Sol, mas as referidas instituições refugiaram-se no sigilo bancário, para não nos confirmarem essa história. Confirmámos também que uma primeira queixa tinha sido apresentada no SIC de Viana. Mas tinham passado quatro meses e ainda não se tinha feito nada para limitar a sua actividade, e continuava a movimentar-se à vontade.
Em Fevereiro as coisas já indiciavam que algo poderia vir a acontecer. O Expansão confirmou que já havia mais de uma dezena de denúncias, que alguns dos clientes com dívidas tinham tentado assaltar as instalações onde este recolhia o dinheiro, e pela primeira vez nos disseram que o caso estava a começar a ser investigado. E seis meses depois, um ano após a denúncia pública, as forças policiais e de investigação avançaram com medidas concretas, mas objectivamente, não sabe onde está Edson Caetano de Oliveira. Teve mais que tempo para preparar a sua fuga e garantir o dinheiro suficiente para viver fora do país.
Um ano depois
Então chegamos à passada quarta-feira, 3 de Agosto, em que o Serviço de Investigação Criminal faz sair um comunicado onde se pode ler que ” O Serviço de Investigação Criminal, através da sua Direcção Central de Combate aos Crimes Financeiros e Fiscais leva ao conhecimento público, que mediante mandado de Revista, Busca e Apreensão, emitido pelo Ministério Público, apreendeu, entre os dias 27 a 29 de Julho de 2022, nove (9) imóveis, localizados no município de Viana, concretamente no Distrito Urbano do Zango, vulgo Luanda Limpa e selou sete (7) imóveis, situados no Zango 5-8000. Bens presumivelmente pertencentes ao cidadão Edson Caetano de Oliveira, proprietário da empresa Xtagiarious Finance, contra quem recaem acusações da prática dos crimes de usura e Associação Criminosa, consubstanciado no recebimento de centenas de milhões de kwanzas de diferentes pessoas com promessas de reembolso no período de 6 meses, com juros de 15% sobre o valor aplicado, o que nunca se concretizou”.
Explica também que esta acção resulta de 18 processos-crime que estão em curso, esclarecendo que Edson de Oliveira foi constituído arguido por fortes indícios dos crimes de usura e associação criminosa, e que o SIC está a fazer diligências para localizar e deter o referido cidadão.
Tal como o Expansão escreveu há um ano atrás, “quem é que na verdade protege os cidadãos destas burlas?” Neste caso particular pode pensar-se que o património apreendido pode ajudar a repor parte das poupanças que centenas de cidadãos entregaram à Xtagiarious. Mas para isso acontecer as autoridades oficiais vão ter que querer, vão ter organizar uma lista credível dos lesados, e arranjar forma de transformar estes imóveis apreendidos em dinheiro para “pagar” aos clientes.
Mas será que é o SIC que vai fazer isto? Há alguma instituição ou serviço que está vocacionado para esta tarefa? Vai demorar quanto tempo? Como vão ser responsabilizados os colaboradores do empresário? E aqueles que se diziam amigos de Edson de Oliveira, os que o defenderam publicamente e ajudaram a angariar mais depositantes? E vai ser emitido um mandato internacional de detenção, ou fica mesmo assim? E o dinheiro que ele tinha em Angola? Nos bancos ou em qualquer outro local? Onde está a fortuna do empresário? Sabe-se ou não?
Ainda faltam muitas respostas e por isso a história não acaba aqui.
Fonte: Expansão