Macky Sall, que dirige o Senegal desde 2012, fez ontem à noite um longo discurso à nação transmitida pela televisão estatal. “Caros compatriotas, a minha decisão cuidadosamente ponderada é não ser candidato às próximas eleições de 25 de fevereiro de 2024, embora a Constituição me dê o direito de o fazer”, anunciou.
“De facto, desde a revisão constitucional de 2016, o debate jurídico foi definitivamente resolvido pela decisão do Conselho Constitucional número 1, de 12 de fevereiro de 2016”, frisou o chefe de Estado.
Horas antes do discurso à nação, o líder da oposição senegalesa, Ousmane Sonko, tinha prometido protestos “em massa” contra o Presidente Macky Sall se anunciasse a candidatura a um terceiro mandato, alegando que seria uma violação da Constituição senegalesa.
Os rumores de que Sall tentaria prolongar a sua permanência no poder alimentaram, desde 2021, episódios de agitação nas ruas do país, em que dezenas de pessoas foram mortas, e abalaram a reputação do Senegal como bastião de uma democracia estável em África.
“Tem havido muita especulação”
Macky Sall diz que pretende manter a tradição democrática do país, refutando a ideia de ser uma decisão tomada devido a pressão popular provocada pelo seu opositor.
“Tem havido muita especulação e comentários sobre a minha candidatura a estas eleições. No entanto, nunca quis ficar refém desta injunção permanente de falar antes da hora, porque as minhas prioridades eram sobretudo a gestão de um país, de uma equipa governamental coerente e empenhada em agir para a emergência, sobretudo num contexto socioeconómico difícil e incerto”, justificou.
Alguns receavam que Sall seguisse o exemplo de outros líderes regionais, incluindo os da Costa do Marfim e do Togo, que utilizaram as alterações à Constituição como desculpa para redefinir o seu mandato e prolongar o seu poder. Mas Macky Sall diz que o Senegal tem outros líderes capazes de fazer emergir o país, por isso, não se candidatará à reeleição nas eleições de 2024.
A decisão de não prosseguir o controverso terceiro mandato, cujos rumores deram origem a protestos por vezes mortíferos, foi recebida com emoção pelos seus apoiantes: “A escolha é dele e ele é o nosso líder. Aceitamos a sua decisão e apoiaremos quem ele nomear. Mas ele devia ter cumprido um segundo mandato de cinco anos, porque tem todo o direito de o fazer.”
Outro apoiante diz que Macky Sall aliviou as tensões no país: “Ele prometeu aos senegaleses e cumpriu a sua palavra. É o Presidente da República e não é bom que um Presidente renuncie a si próprio. Se ele tivesse decidido fazer um terceiro mandato, teria sido complicado para o país.”
“É preciso respeitar a palavra dada, e foi esse respeito que nos conduziu a esta situação. A partir de agora, ele será muito respeitado a nível internacional. Ele fez o que podia pelo Senegal. O seu ato é nobre e ele agiu como uma pessoa respeitável”, sublinhou ainda.
Fonte: DW