Interferência política no futebol levanta dúvidas sobre genuinidade da luta contra a corrupção

Reações ao escândalo no futebol angolano continua. Jurista diz que interferência política levanta dúvidas sobre a genuinidade da luta do Governo contra a corrupção e pode prejudicar o país se a FIFA tomar conhecimento.

Após o Presidente de Angola, João Lourenço, manifestar a sua preocupação com a suspensão imposta pela Federação Angolana de Futebol (FAF) a clubes angolanos na semana passada, a discussão ganha novo fôlego, não só em relação ao caso em si, mas também às opiniões divergentes sobre a atuação do Presidente.

O Presidente João Lourenço, ao reagir à penalização dos clubes, considerou a decisão da FAF como “grave”, argumentando que ameaça o campeonato nacional e o próprio futebol angolano:

“Então, eu considero que deve haver bom senso e se houver, efetivamente a necessidade de se castigar algum prevaricador que isso seja feito, mas que nunca ponha em jogo a continuidade do campeonato e muito menos que não mete o futebol angolano”, apelou o Presidente de Angola.

Interferência política indevida

As declarações de João Lourenço têm gerado críticas de diversos setores sociais, com alguns argumentando que o presidente não deveria se manifestar sobre o assunto da forma como o fez. o jurista e advogado Lindo Bernardo Tito, por exemplo, alertou para as possíveis sanções da FIFA, que proíbe qualquer interferência política nesse tipo de assunto:

“Esta interferência pode prejudicar o país se a FIFA tomar conhecimento. As decisões das federações são soberanas. Nenhuma entidade política deve questiona-las ou deve obrigar que haja uma alteração da decisão.”

Além disso, Tito destacou a importância de manter uma abordagem consistente na luta contra a corrupção, independentemente do contexto em que ocorra. Ele enfatizou que a corrupção no futebol é prejudicial para a modalidade e deve ser combatida com determinação.

O jurista Lindo Tito apela ao Chefe de Estado para apoiar decisões semelhantes à da FAF, destacando a importância de combater a corrupção em todas as esferas, incluindo o futebol, como parte de um esforço genuíno contra esse fenômeno.

“O presidente não pode olhar para o futebol como algo passageiro. Ele tem de ter a ideia clara de que a corrupção no futebol é também prejudicial como a corrupção na vida política e económica. Ora, o presidente está a dar ideia de que a luta contra a corrupção que tem feito não é genuína porque se fosse ele deveria sim considerar a decisão da FAF como aquela que vai no sentido correto de combate a corrupção”.

Recursos

Os clubes Petro de Luanda, Kabuscorp do Palanca e Académica do Lobito interpuseram recursos com efeitos suspensivos ao Conselho Jurisdicional da FAF, permitindo que continuem as suas atividades desportivas enquanto aguardam uma decisão. No entanto, existe a possibilidade de que o caso seja levado à FIFA, o que poderia prolongar ainda mais a resolução do escândalo.

Em causa está um áudio divulgado nas redes sociais no qual o jogador do Petro Márcio Luvambo confirma que o emblema que representa pagou três milhões de kwanzas à Académica do Lobito para vencer o 1.º de Agosto, em jogo da Taça de Angola da época passada.

Com o início do Girabola, o principal campeonato de futebol nacional, programado para o dia 15 deste mês e a Taça de Angola adiada devido à corrupção.

O Petro de Luanda venceu por 17 vezes o campeonato angolano de futebol, um recorde do Girabola, incluindo as últimas duas edições, em ambas já sob o comando do português Alexandre Santos. O clube mais premiado do campeonato nacional, enfrentará desafios tanto a nível nacional quanto continental na presente temporada.

Fonte: DW

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