Centenas de perfis, página e grupos falsos foram criados no Facebook e e também no Instagram para promover o MPLA e criticar o principal partido na oposição, a UNITA, revela um estudo feito pelo Observatório Internet da Universidade de Stanford na Califórnia.
A campanha, feita pela companhia Mind Force, então sediada em Israel, foi mencionada pela organização americana Freedom House num relatório sobre “Liberdade na Internet 2023: O poder da repressão da inteligência artificial” e que fez uso de dados desse estudo.
O estudo da Universidade de Stanford é datado de 2022 mas tinha passado despercebido até agora. O estudo revela que foram criados 122 perfis, 12 páginas e dois grupos no Facebook e ainda 10 contas no Instagram.
O objetivos dessas contas, diz o relatório, era não só o promover a cultura e as perspectivas económicas de Angola mas também a de apresentar “uma visão positiva do partido MPLA no poder e os seus representantes, principalmente o actual Presidente João Lourenço” e apresentar “críticas do partido de direita da oposição, UNITA e o seu atual líder Adalberto Costa Júnior.”
Um dos artigos publicados numa dessas páginas descreve a UNITA como “tendo sido sempre uma organização tribalista que mesmo hoje tem dificuldades em ser um partido verdadeiramente inclusivo, alimentado os seus seguidores com e falsos compromissos e promessas vazias dos seus líderes”.
O Observatório Internet da Universidade de Stanford disse que o “envolvimento com páginas e grupos na rede foi altamente inconsistente”.
“Alguns grupo mostraram envolvimento adequado (embora muitas vezes não autêntico), alguns não possuíam quase nenhum seguidor e outros – apesar de terem dezenas de milhar de seguidores – não tinham qualquer engajamento”, diz o documento.
The Angola Post, Angola International, Angola Tech, Angola para Todos, Democracia em Angola e paradoxalmente Fake News Angola são algumas das contas criadas.
Muito do conteúdo noticioso foi retirado de outras fontes noticiosas geralmente com a eliminação do autor, diz o estudo.
As contas criadas no Facebook e Instagram promoveram também conteúdo relacionado com os casos de alegada corrupção envolvendo Isabel dos Santos, a filha do ex Presidente José Eduardo dos Santos “talvez como meio de sublinhar sucessos no combate à corrupção e apresentar a corrupção como uma relíquia da administração prévia”, diz o documento.
O estudo afirma ainda que muitos dos intervenientes nessas contas “possuem indícios de não serem autênticos” como por exemplo “contas que compartilham nomes (usernames) em sequência numérica e imagens usadas de perfis e comentários que são altamente genéricos ou laudatórios não específicos de Angola e do seu atual governo”.
Ironicamente um empregado da Mind Force colocou o seu perfil profissional no LinkedIn em que diz que na Mind Force foi “responsável por criar websites e administrar redes sociais (social media) para promover as ações do governo angolano”.
“Desenvolvi e administrei quatro campanhas ao mesmo tempo. Por cada campanha criei websites, e contas no Facebook, Linkedin e Pinterest”, diz o perfil profissional.
O empregado da Mind Force cita depois os sites Angola Post, New Angola, Democracia em Angola e Luanda Leaks como tendo sido da sua responsabilidade.
“(Fui) responsável por escrever e publicar 22 artigos em jornais angolanos e portugueses”, diz o perfil.
O estudo do Observatório Internet da Universidade de Stanford afirma ainda que no passado uma outra companhia, Arquimedes também criou conteúdo sobre Angola “embora não tenhamos provas que sugiram que as duas companhias têm ligações”.
O documento diz que alguns dos trabalhadores da Mind Force eram brasileiros residentes em Israel.
Ontem, a VOA contatou João Demba, Director Nacional de Informação e Comunicação Institucional, do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, mas não tivemos qualquer resposta.