Há uma semana, a ministra angolana das Finanças, Vera Daves, disse que o Presidente João Lourenço mandou rever o processo da retirada dos subsídios aos combustíveis para que seja “mais inclusivo”.
Em Angola, desde que o preço da gasolina subiu, a inflação aumentou e os produtos alimentares ficaram mais caros. A situação agudiza a cada dia a pobreza de várias famílias.
O politólogo David Sambongo entende que a pressão social motivou o Executivo a repensar as suas decisões.
“O Governo angolano está encurralado. Não quer reconhecer que cometeu um erro político ao retirar gradualmente os subsídios aos combustíveis sem criar as condições [para isso], e está então a trazer este discurso de que vai reavaliar a decisão”, critica.
“Está tudo em aberto” e “vai acontecer um debate político e social sobre o tema”, disse recentemente a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, à agência noticiosa Lusa, referindo-se à retirada gradual dos subsídios aos combustíveis.
Taxistas aplaudem iniciativa
A governante diz que o Presidente João Lourenço pretende que o Executivo seja “mais inclusivo no debate, envolvendo diferentes estratos da sociedade e auscultar mais; o que resultar dessa auscultação vai permitir tomar a decisão final”. Vera Daves admitiu ainda que pode até acontecer um regresso aos subsídios.
A Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA) aplaude a iniciativa e anseia pela sua concretização. O presidente da ANATA, Francisco Paciente, lembra que a alteração brusca do preço da gasolina causou riscos de várias ordens à classe que dirige.
“É importante que o Governo reveja esta política. Se a ministra diz que o Governo vai reavaliar, significa que está a evitar situações”, afirma.
Otimista, o presidente da ANATA acrescenta: “Estamos satisfeitos com este pronunciamento e esperamos que nos próximos tempos não haja mais subida dos preços dos combustíveis tal como aconteceu em junho”.
Ajustar o preço ao mercado internacional?
O deputado da UNITA Manuel Mbalu espera que na reavaliação conste a continuidade dos subsídios aos combustíveis.
“Segundo dizem, e é uma verdade, que em Angola aplicam-se preços baixos relativamente aos combustíveis. A tendência é querer fazer o equilíbrio com os preços aplicados nos outros países”, especula.
Mas o deputado está certo de uma coisa: “O custo de vida é alto em Angola. Portanto, não continuar a subsidiar os combustíveis em Angola não é uma questão acautelada”.
O politólogo David Sambongo endossa esta posição: “Acho que não se deve perder tempo com a reavaliação. O que deve se fazer é o Governo reconhecer que foi inconveniente retirar a subvenção da gasolina e que voltasse a situação anterior. É a única forma que o Governo tem para tentar, de alguma forma, minimizar os efeitos do fim da subvenção à gasolina “.
Entretanto, durante o seu discurso sobre o Estado da Nação proferido na Assembleia Nacional a 16 de outubro, o Presidente da República, João Lourenço, garantiu que a retirada gradual dos subsídios aos combustíveis vai continuar.