Quando João Lourenço chegou à Presidência de Angola, em 2017, declarou-se contra a bajulação e o culto à personalidade. Ainda no ano passado, o Presidente angolano voltou a referir que essa é uma prática “nefasta” ao país, e que a tem combatido com “atos concretos, e não apenas no discurso”.
Durante a anterior governação, de José Eduardo dos Santos, a lisonja interesseira era frequente por parte dos governantes, membros da sociedade civil e até por jornalistas. Quem não seguisse esta linha poderia até sofrer represálias.
“Bajulismo está de volta”
Agora, no entanto, a bajulação parece estar de volta. “Porque [o Presidente da República] se deu conta de que, sem o bajulismo, não conseguiria sobreviver politicamente, pois o mesmo proporciona o culto de personalidade”, comenta o jornalista angolano Ilídio Manuel em declarações à DW África.
“João Lourenço nunca veio publicamente dizer que era contra todos aqueles que o bajulassem, e isso faz-nos entender que aceita que seja adorado”, explica.
Também o jurista angolano Agostinho Canando nota que, nos últimos tempos, tem havido um certo exagero nos elogios ao Presidente João Loureço, sobretudo nos discursos de titulares de cargos públicos.
“São indivíduos que exageram os feitos. E, muitas vezes, ao exagerar, trazem informações que nem sequer correspondem à verdade, tampouco existem. São informações que acabam beliscando a busca da verdade e felicidade do povo angolano”.
Imagem do Presidente
Um exemplo concreto de bajulação em discursos de governantes sobre João Lourenço, por exemplo, foi o próprio ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, ter dito que o aeroporto foi construído “graças ao Presidente da República”. Além disso, recentemente, uma fotografia de agentes da polícia nacional a pegar numa coroa de flores e na imagem do Presidente João Lourenço foi duramente criticada pelos cidadãos.
Para Ilídio Manuel, essa foto foi o exemplo mais acabado de bajulação.
“O que aconteceu na Ganda [província de Benguela] foi um ato de pura bajulação em que o mentor da ação acabou por sair mal uma vez que os efeitos pretendidos foram subvertidos”, disse.
E se a moda pega? Agostinho Canando acredita que isso seria preocupante, “os resultados negativos serão vistos daqui para frente. Mal nos descuidamos, a República de Angola será [novamente] uma República da Bajulância”, afirma.
Quando chegou pela primeira vez à Presidência da República, João Lourenço afirmou que o “reforço do sistema democrático” seria uma das grandes apostas do seu Executivo. Isso inclui a “aceitação da diversidade e das diferenças de opinião e de escolha”, acrescentou o Presidente, e seria um ingrediente fundamental para o desenvolvimento do país.
Fonte: DW