A desistência de Joe Bidenda corrida presidencial nos Estados Unidos foi considerada por muitos como uma jogada inteligente, embora também tenha sido criticado pela decisão tardia.
Apesar das eleições nos EUA acontecerem a milhares de quilómetros de distância, muitos africanos seguem com forte interesse o drama pré-eleitoral. A corrida até afeta pessoalmente algumas pessoas.
“Estou muito grata pelo longo serviço prestado por Joe Biden ao nosso país e pela sua dedicação ao Partido Democrata”, afirma Patricia Wilkins, uma afro-americana a viver no Gana.
A fundadora da Basics International, uma organização não-governamental que apoia estudantes menos privilegiados no país, reconhece que a saúde de Biden “não está a 100% e ele merece um tempo para se curar e não assumir os fardos do mundo inteiro nesta conjuntura crítica”.
“Precisamos de um líder que tenha a força e o vigor para enfrentar os desafios”, acrescenta.
Entusiasmo com a candidatura de Harris
Wilkins encara com bons olhos a perspetiva de uma mulher presidente dos EUA, com raízes em África, nas Caraíbas e na Índia.
“A sua experiência, resiliência, o seu empenho no setor da Justiça e pela igualdade fazem dela uma líder excecional para o nosso partido. Estou confiante que ela nos vai inspirar e unir”, comenta.
O entusiasmo de Wilkins por Kamala Harris, candidata a líder dos Democratas, está ligado ao seu trabalho: alguns dos seus alunos tiveram a oportunidade de conhecer a atual vice-Presidente na sua recente viagem a África.
Além disso, a perspetiva de um novo líder dinâmico na Casa Branca pode inspirar alguns africanos a refletir sobre as lideranças nos seus países.
Clube dos mais velhos
África é o lar de alguns dos líderes mais velhos do mundo. Paul Biya, de 91 anos, nos Camarões, Emmerson Mnangagwa, de 81 anos, no Zimbabué, e Abdelmadjid Tebboune, de 78 anos, na Argélia, são alguns exemplos.
Os 81 anos de idade de Biden são, para muitos, vistos como a principal razão para a sua desistência. Mas Cyril Anane, estudante universitária no Gana, lembra que todas as lideranças chegam ao fim e deixa um recado aos líderes africanos.
“Não devíamos estar a ver homens de 80 anos a tentar a reeleição, a viajar pelo país, a fazer campanha. Deveríamos estar mais preocupados em incentivar os nossos líderes a aprender com algumas destas coisas, porque a liderança não é um direito inato”, refere.
Tom-Chris Emewulu, empresário nigeriano, concorda com esta ideia.
“Penso que um líder deve reconhecer quando é altura de se afastar em nome de um bem maior. Agarrar-se ao poder só convida ao ridículo e, na verdade, prejudica a nação como um todo”, afirma.
Parcerias com África
Emewulu é o fundador de uma iniciativa no Gana chamada “Stars From All Nations” (Estrelas de Todas as Nações), que tenta combater o desemprego juvenil. Para ele, as parcerias entre países são importantes para ajudar os jovens.
O empresário ganês reconhece que a administração Biden colocou firmemente África na sua agenda como uma grande prioridade – especialmente em comparação com o anterior Presidente Donald Trump, que ficou conhecido por fazer comentários depreciativos sobre o continente, pelos quais ainda não pediu desculpa.
Ainda assim, sugere que África se “concentre na negociação de parcerias comerciais favoráveis com quem quer que ganhe as próximas eleições”.
Para Christopher Fomunyoh, membro sénior para África e diretor regional do Instituto Nacional Democrático, uma organização não-governamental nos EUA, a entrada em cena de Kamala Harris poderá colocar os assuntos africanos em cima da mesa.
Harris terá boas políticas para África?
“Penso que as implicações da desistência de Biden são enormes”, diz Fomunyoh. “Durante o período de campanha, nos próximos quatro meses, haverá muita discussão sobre questões africanas baseadas em grande parte em Biden e nas políticas da administração Biden em relação a África”.
Fomunyoh considera que se a vice-Presidente Harris ganhar as eleições de novembro, os parceiros africanos só terão a ganhar.
“Se ela ganhar, será uma continuação da política da administração Biden-Harris em relação ao continente”, acredita.
Entretanto, as gerações mais jovens consideram que os valores de Harris estão mais de acordo com os seus próprios valores. Cyril Anane, estudante universitária, diz que está na hora de uma mulher assumir as rédeas dos EUA.
“Depois, claro, as feministas poderão gabar-se de haver uma primeira mulher presidente dos Estados Unidos”, diz.
Fonte: DW