José da Conceição Guilherme, conhecido como “Zé Grande”, faleceu na madrugada desta quinta-feira aos 78 anos. Figura central no setor da construção civil em Portugal e Angola, Guilherme foi um dos nomes mais influentes, mas também mais discretos, no panorama empresarial lusófono. O empresário ganhou notoriedade pelas suas ligações profundas com a elite política angolana, especialmente com a família dos Santos, e pelos seus ambiciosos investimentos imobiliários em Luanda.
Desde que Ricardo Salgado, então presidente do Banco Espírito Santo (BES), convenceu José Guilherme a apostar em Angola, o construtor tornou-se um dos maiores investidores imobiliários na capital do país. Este crescimento rápido e significativo não teria sido possível sem as suas estreitas relações com o governo de José Eduardo dos Santos. Segundo fontes em Luanda, Guilherme chegou a ser sócio de Steven Santos, filho de Marta dos Santos, irmã do ex-presidente angolano.
Durante a última década, José Guilherme foi responsável pela construção de alguns dos empreendimentos mais icónicos de Luanda. Entre eles destacam-se as Torres Oceano, dois edifícios de 30 andares avaliados em 305 milhões de dólares, que se tornaram os mais altos da cidade, e o condomínio Dolce Vita, no bairro de Talatona, um complexo de 450 apartamentos distribuídos por 32 edifícios, com um investimento de 350 milhões de dólares.
Outro projeto de destaque foi o complexo Clássicos de Talatona, que abriga vários ministérios angolanos e que o Estado se comprometeu a adquirir por 600 milhões de dólares. Estes empreendimentos não só consolidaram a presença de José Guilherme em Angola, mas também elevaram o seu status como um dos empresários mais poderosos da região.
O sucesso de José Guilherme em Angola foi, em grande parte, facilitado pelo apoio financeiro do BES Angola (BESA), hoje Banco Económico. O banco abriu uma linha de crédito superior a mil milhões de dólares para as sociedades ligadas ao empresário, num período em que o BESA era controlado pelo grupo Espírito Santo. Em troca, José Guilherme transferiu 14 milhões de euros para uma conta offshore de Ricardo Salgado, um gesto que levantou suspeitas de corrupção e tráfico de influência.
Essas transações financeiras foram descobertas durante a investigação do caso “Monte Branco”, um dos maiores escândalos de lavagem de dinheiro em Portugal. Embora o representante de Guilherme tenha negado que o empresário tenha recebido condições especiais nos empréstimos, as ligações entre os dois continuam a ser objeto de escrutínio.