O “combate à corrupção” de João Lourenço, que começou com grande alarde em 2017, foi uma das bandeiras centrais de sua presidência. Inicialmente, o objetivo declarado era desmantelar as estruturas de corrupção que haviam sido criadas sob o governo de José Eduardo dos Santos. Contudo, com o passar dos anos, o que parecia ser um esforço para limpar o país de práticas ilícitas tornou-se alvo de críticas severas, à medida que evidências de fracasso e seletividade emergiram.
No campo econômico, os chamados “ajustes diretos”, contratos sem concurso pública, tornaram-se uma prática corriqueira, facilitando a criação de novos monopólios em torno de grupos empresariais próximos ao presidente. Algumas empresas beneficiaram-se enormemente dessas práticas, o que aumentou a concentração de riqueza e enfraqueceu a transparência. Esse uso indiscriminado de ajustes diretos é considerado por analistas uma “avenida longa para a corrupção”, criando um ciclo de favorecimento entre elites, ao invés de promover a diversificação econômica que Angola tanto precisa.
Além disso, a economia angolana sofreu com a falta de uma política efetiva para combater a corrupção de forma ampla. A falha em criar um ambiente de negócios transparente e competitivo prejudicou o soft power do país e o tornou menos atraente para investidores estrangeiros. A promessa de recuperação de ativos foi também um ponto de contestação: embora o governo tenha alegado recuperar bilhões de dólares, há pouca transparência sobre o paradeiro e uso desses fundos, o que levanta suspeitas sobre a verdadeira eficácia do programa.
No cenário político, João Lourenço enfrenta uma crescente pressão dentro do próprio MPLA, seu partido. Muitos apontam para uma divisão interna, com figuras influentes descontentes com sua gestão e seu fracasso em consolidar uma verdadeira estratégia de combate à corrupção. Isso tem aberto espaço para a ascensão da UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, cuja popularidade continua a crescer à medida que ele critica Lourenço por supostamente manipular o combate à corrupção para benefício próprio.
Com o país cada vez mais polarizado e as instituições judiciais sob pressão do poder político, a imagem de Lourenço está fortemente danificada. Há ainda a percepção de que a justiça continua sendo seletiva, com aliados próximos do presidente escapando impunes enquanto opositores políticos são alvos de ações judiciais. A UNITA, por exemplo, tem acusado Lourenço de estruturar o Estado angolano como um “agente corruptor”, promovendo monopólios e tráfico de influências.
Especialistas sugerem que até 2027, quando termina o segundo mandato de Lourenço, o cenário político e econômico pode se deteriorar ainda mais se o governo não conseguir restaurar a confiança pública e promover reformas reais. A crescente insatisfação popular e o fortalecimento da oposição indicam que o caminho para o presidente será complicado, com possíveis repercussões políticas graves, incluindo a fragmentação do MPLA e a maior ascensão da UNITA no cenário político nacional.