Fome no sul e leste de Angola preocupa ONG

Agrava a situação de fome no sul e no leste de Angola, devido à seca. Escassez aumenta porque muitas famílias esgotaram cedo as suas reservas alimentares.

A seca e os preços altos estão a agravar a fome no sul e no leste de Angola, onde muitas famílias enfrentam um grau elevado de subnutrição. A situação deve prolongar-se até janeiro de 2025, segundo indicadores do relatório de setembro último da Rede de Sistemas de Alerta Precoce contra a Fome (FEWS NET) que analisa a insegurança alimentar em dezenas de países.

“No sul e no leste de Angola, afetados pela seca, a época de escassez começou, em setembro, sendo provável que muitas famílias tenham esgotado as suas reservas alimentares atipicamente cedo”, refere o documento consultado pela Lusa.

Tais famílias, adianta, tornaram-se dependentes do mercado para obter alimentos num contexto de preços elevados. O relatório salienta que, devido a estes fatores, há regiões onde o índice IPC, que classifica a gravidade e magnitude da insegurança alimentar e da subnutrição, é já 3, o correspondente à crise.

Isto significa que há famílias que não têm alimentação suficiente e apresentam níveis elevados de subnutrição, enquanto outras são obrigadas a vender bens que sustentam os seus meios de subsistência para conseguir uma dieta mesmo assim limitada.

Estes efeitos, que deverão sentir-se até janeiro de 2025 atingem famílias pobres das províncias do Cunene, Cuando Cubango, Moxico, Huíla e partes das províncias de Benguela e Namibe, que dependem de assistência alimentar e são obrigados a vender produtos agrícolas para comprar alimentos.

Impacto negativo dos preços elevados

O documento refere ainda que “os agregados familiares nestas áreas enfrentaram várias secas que estão a diminuir os meios de subsistência e a sua capacidade de lidar com os choques atuais”. Além dos relatos de fome nas zonas afetadas pela seca, a FEWS expressa preocupação com o impacto negativo dos preços elevados dos alimentos em termos de acesso dos agregados familiares mais pobres em zonas rurais e urbanas.

A FEWS assinala que embora o ritmo da inflação tenha vindo a abrandar, os preços dos alimentos básicos continuam a aumentar e permanecem elevados, podendo aumentar ainda mais devido à recente depreciação da moeda.

“A inflação mensal dos alimentos tem vindo a diminuir desde fevereiro, tendo a inflação anual diminuído em agosto (para 30,5%) pela primeira vez desde abril de 2023”, destaca o documento. No entanto, sublinha que “a dependência de Angola de alimentos importados, combinada com a recente depreciação do kwanza angolano em relação ao dólar também está a ter impacto nos preços dos alimentos”.

De acordo com a FEWS, os modelos de monitorização mostram uma humidade do solo muito baixa em grande parte de Angola em agosto, que só diminuirá ligeiramente em setembro, com uma recuperação “atipicamente lenta”. Além disso, alguns agricultores também não têm sementes de milho para plantar e a as importações de fertilizantes ainda estão pendentes.

No entanto, a FEWS admite como “provável” que a capacidade de compra de alguns agregados familiares melhore devido aos aumentos significativos do salário mínimo, que entraram em vigor a 15 de setembro e se destinam a compensar a inflação. De referir que os salários foram aumentados entre 45 e 100 por cento.

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