O surto de cólera declarado em 7 de janeiro no município de Cacuaco, em Luanda, já se espalhou para quatro províncias angolanas, incluindo Luanda, Bengo, Icolo e Bengo, e Malanje. De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 600 casos foram registados e 29 vidas foram perdidas até agora. Especialistas apontam a precariedade do saneamento básico como um dos principais fatores para o alastramento da doença.
Em entrevista a DW, o médico Jeremias Agostinho, especialista em saúde pública, destacou que o surto não foi inesperado. “Em finais de 2023 e início de 2024, houve um aumento significativo de casos de doenças diarreicas, agravado pelo deficiente saneamento básico, pobreza e um sistema econômico predominantemente informal. Esses fatores criaram um ambiente propício para a cólera”, afirmou.
A situação foi agravada pela frequência de chuvas intensas, que inundaram áreas precárias, como o bairro do Paraíso, onde o surto teve início. Nessas áreas, habitadas por até sete pessoas por metro quadrado e sem acesso a latrinas, as condições são ideais para a propagação da doença.
Além do saneamento básico, a coleta e tratamento inadequados de lixo também têm contribuído para a crise. O lixo frequentemente é depositado em valas de drenagem, que, com as chuvas, acabam levando os resíduos para praias e rios. Este cenário contamina águas utilizadas para consumo e irrigação de alimentos.
Outro problema é a distribuição de água potável. Segundo o especialista, “em cada dez angolanos, cinco não têm acesso à água potável”. Mesmo a água distribuída pela Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) não cumpre os padrões de potabilidade necessários.
O governo angolano implementou medidas de emergência nas áreas mais afetadas, como a criação de zonas de internamento para doentes, distribuição de água tratada e fornecimento de produtos para desinfecção. No entanto, o Dr. Agostinho defende que essas ações precisam ser mais abrangentes. “Para controlar o surto antes de abril, é essencial intensificar esses esforços”, destacou.
O médico reforça a importância de medidas de prevenção, como ferver a água, lavar as mãos com água tratada ou álcool em gel e evitar alimentos crus, especialmente fora de casa. Ele também alerta para o impacto da cólera em indivíduos assintomáticos, que podem transmitir a doença através das fezes.
Entre os sintomas de cólera estão diarreia abundante, vómitos, fraqueza extrema, cãibras e sede intensa. Pessoas com esses sintomas devem procurar imediatamente uma unidade de saúde.