FMI pede “cuidado” na transição energética por causa da “estabilidade financeira”
A “transição para uma economia de baixo carbono precisa de ser gerida com cuidado para evitar reavaliações abruptas e não antecipadas”, defende o Fundo Monetário Internacional.
“De um ponto de vista da estabilidade financeira, esta transição para uma economia de baixo carbono precisa de ser gerida com cuidado para evitar reavaliações abruptas e não antecipadas de carteiras e deslocalização económica”, pode ler-se no capítulo cinco do Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI.
O capítulo, intitulado “Alterações Climáticas: risco físico e preços das ações”, considera ainda que “ações de política para mitigar as alterações climáticas reduziriam os gases de efeito de estufa e futuros riscos físicos à partida, conferindo benefícios para a humanidade que se estendem bem além da estabilidade financeira”.
A investigação do FMI concluiu ainda que a reação dos mercados financeiros a desastres naturais nos últimos 50 anos foi “modesta”, e considera que os investidores podem estar a dar “atenção insuficiente” às alterações climáticas.
Quanto a números mais recentes, o capítulo indica ainda que quanto às variáveis climáticas, a “análise e as provas providenciadas (…) sugerem que as avaliações agregadas de ações em 2019 não refletiam esse risco”.
“Assim, os investidores em ações podem estar a tomar atenção insuficiente a variáveis climáticas”, adverte a instituição liderada por Kristalina Georgieva, ressalvando, no entanto, que “as características dos países contam” quando se trata de avaliar o impacto nos mercados.
Como exemplo, o capítulo do FMI, intitulado “Alterações Climáticas: risco físico e preços das ações”, avança que o desastre do furacão Katrina, nos Estados Unidos, em 2005, apesar de ser o mais significativo da amostra, “acionou uma reação modesta nos mercados de capitais, sem uma queda percetível nos índices bolsistas”, ao passo que as cheias de 2011 na Tailândia, com o maior impacto relativamente ao país, “resultou numa queda no mercado bolsista tailandês de mais de 8% depois do desastre e uma queda acumulada de cerca de 30% nos 40 dias de negociação seguintes”.
Segundo as conclusões do FMI, sediado em Washington, “a penetração dos seguros e a solidez financeira do soberano [Estado] podem amenizar o impacto de desastres climáticos nos preços dos títulos, incluindo no setor financeiro”.
“As conclusões implicam que independentemente da magnitude de futuros desastres climáticos, a estabilidade financeira será melhor preservada em economias que têm bons indicadores nessas dimensões”, segundo o FMI.
O fundo destaca que os seguros do ramo não-vida “são uma fonte de resiliência financeira porque aumentam a capacidade das economias recuperarem de desastres”, apesar de a margem de proteção (a percentagem de perdas não seguradas) permanecer “significativa, especialmente em economias de mercado emergentes e em desenvolvimento”.
“A solidez financeira de um soberano permite-lhe responder em força a desastres e reduzir o impacto económico e financeiro do choque.
Construir ‘almofadas’ orçamentais, implementar linhas de crédito contingentes, e desenvolver um sistema são de gestão das finanças públicas é importante nesta matéria. Instrumentos de dívida contingente dos Estados podem também ser úteis para maior flexibilidade de políticas em tempos adversos”, denota o FMI.
A instituição defende ainda que, “para ajudar o público, incluindo os participantes no mercado, a perceber melhor o risco físico, os decisores políticos devem considerar fortalecer a literacia para as alterações climáticas”, através de maior publicitação de evidência científica.
“Informação granular e específica para as empresas acerca de exposição e vulnerabilidade atual e futura aos riscos físicos de alterações climáticas ajudaria credores, seguradores e investidores a avaliar melhor esses riscos”, segundo o FMI.
O fundo sugere que sistemas baseados em avisos prévios à população, gestão da densidade populacional em áreas de risco ou implementação de regulação, bem como investimento em infraestruturas de proteção, poderiam ser medidas de redução de risco climático.