Aumenta tensão em Cabinda

O governo do Presidente João Lourenço está a ser incapaz de lidar com a situação de Cabinda, o que faz aumentar a tensão no enclave, dizem activistas que pro-dialogo.

Os últimos dias têm sido marcados por relatos de confrontos entre o braço armado da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e forças do Governo angolano, que já causaram mais de 20 mortos só no passado mês de junho.

As forças do governo, estão a ser acusadas por activistas na província de vitimar civis e de operar em território de países vizinhos.

No passado domingo, 28 de junho, dois líderes da União dos Cabindeses para Independência (UCI) foram detidos pelas autoridades governamentais sob acusação de colarem panfletos pelo diálogo para a paz em Cabinda.

Segundo o secretário-geral da UCI, entrevistado pela DW, Cabinda tornou-se território “muito militarizado” e o clima de “insegurança total”.

Eduardo Matunda, denunciou incursões de militares do Governo em território de países vizinhos – como República do Congo e República Democrática do Congo.

De acordo com advogado Arão Bula Tempo, líder do Movimento da Reunificação dos Povos de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), algumas vítimas seriam cidadãos dos dois países vizinhos, suspeitos de apoiarem os separatistas.

Em declarações recentes à Lusa, o deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) Raul Danda, eleito pelo círculo de Cabinda, considerou “uma verdadeira insanidade” que o governo angolano negue a existência de um conflito armado no enclave e criticou o papel de Portugal.

O deputado salientou que tem dito reiteradas vezes que quanto mais o governo angolano adia o debate sobre a situação, “mais radicaliza os espíritos”.

Quanto ao papel de Portugal neste processo, Raul Danda declarou que é “com bastante mágoa e tristeza” que olha para as autoridades portuguesas, considerando que grande parte dos políticos portugueses “são aqueles que na altura em que estão na oposição dizem muitas verdades, mas basta chegar ao poder ficam todos alinhados com o governo da Cidade Alta [em Luanda, onde se encontra o Palácio Presidencial] por causa do dinheiro”.

De acordo com Raul Danda, o governo angolano tem de tentar encontrar uma solução para aquele caso, “sob pena de estar a fazer um papel pior do que o que os portugueses fizeram”.

Alegando “responsabilidades históricas”, o denominado Alto Conselho de Cabinda (ACC), através de um documento intitulado “O Drama do Povo de Cabinda Maio 2020”, solicitou ao governo português para “organizar e mediar as negociações entre o governo angolano e o povo de Cabinda, com observação da ONU, UA, EU, OAD.

Do lado do governo do MPLA, tem imperado o silêncio sobre o caso de Cabinda, o mesmo acontecendo com sucessivos governos portugueses.

A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência no território alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.

C/Lusa e DW

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