O custo de vida no consumidor nacional registou uma variação de 1,6% de Junho a Julho de 2023, enquanto em termos homólogos, o índice fixou-se nos 12,1%. A análise aos números do INE levanta questões sobre credibilidade dos dados, pelo desafasamento com a realidade, num mês em que as famílias sentiram os aumentos.
Especialistas angolanos garantem que a recolha, registo e tratamento dos dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o custo de vida no País carecem de uma avaliação independente externa porque estão desfasados da realidade.
A justificação, segundo apurou o Expansão, é que os números levantam algumas dúvidas, sobretudo quanto à metodologia utilizada e os reais motivos que levaram o INE a deduzir os valores do último relatório sobre o Índice de Preços do Consumidor Nacional (IPCN) referente ao mês de Julho.
O investigador da Universidade Lusíada de Angola, Heitor de Carvalho, em declarações ao Expansão, disse que não percebe “o que se passa na recolha, registo e tratamento dos dados do INE”, mas uma coisa ele tem certeza: “seguramente exige-se uma avaliação externa independente com carácter de urgência.”
Já Wilson Chimoco, que também não foge muito da argumentação de Heitor Carvalho, lembra que “há claramente um desencontro entre os números do INE e a realidade económica e social do País”. O economista questiona as razões para tal acontecer nas estatísticas angolanas quando o custo de vida é cada vez mais elevado.
“Não sei se é por questões de metodologia ou vontade deliberada, não consigo precisar, mas que isso reduz a confiança nos números do INE, é verdade.”
Entretanto, o INE revela que o IPCN registou uma variação de 1,6% de Junho a Julho de 2023, enquanto em termos homólogos, o índice fixou-se nos 12,1%.
Cálculos do Expansão indicam que desde 11 de Maio e finais de Julho o Kwanza caiu 38,4% face ao dólar e verificou-se também a subida dos preços da gasolina (a 2 de Junho). Ainda assim, segundo as nossas contas, com base nos dados do INE, os preços ao consumidor a nível nacional apenas aumentaram 3% entre Maio e Julho, quando há casos de preços de bens básicos que duplicaram e até triplicaram no mesmo período.
Respondendo ao Expansão quanto às queixas das famílias, que relatam aumentos para o triplo ou para o dobro nalguns produtos alimentares e serviços, Heitor Carvalho foi peremptório em dizer que “o nosso sacrifício não se mede pela desvalorização do Kwanza, mas em quantos Kwanzas mais temos de desembolsar por cada dólar. Ora, o dólar valorizou 62,4% entre 11 de Maio e 31 de Julho”.
Carvalho garante, por outro lado, que, “se não houvesse variação das margens e se o stock existente a 11 de Maio estivesse a ser vendido ao preço de recompra actual mais a margem de comercialização anterior, os preços dos produtos importados teriam subido cerca de 60%. Considerando que a componente importada no Produto Interno Bruto (PIB) é de cerca de 30%, incluindo produtos finais e matérias-primas, os preços, por efeito exclusivo da taxa de câmbio, teriam subido cerca de 20%.”
Rebate, no entanto, os números que o Expansão calculou, que revelam uma subida de 56% no informal e 39% no formal para 14 e 9 produtos da cesta básica, entre Abril e Julho, respectivamente. “Imaginemos que a inflação nos produtos alimentares tenha sido próxima do menor valor calculado pelo Expansão (39%). Como a alimentação e bebidas não alcoólicas tem um peso de 55% na inflação, teríamos um impacto de 21,45% nos preços. Para que a inflação tivesse sido de 1,41% com a alimentação e bebidas a ter um impacto de 21,45%, os outros produtos teriam de ter descido 44%. Isto é possível?”, questiona o economista.
O académico vai mais longe e recorda com números a realidade e o custo de vida em Angola. “Para o INE, os preços da alimentação e bebidas não alcoólicas subiram apenas 1,46%, quer dizer que uma coisa que custava em Maio 1.000 Kz, custava em Julho apenas um pouco menos de 1.015 Kz; quem comprava 100 mil Kz de alimentação, em Maio, teria, em Julho, de pagar 101.460 Kz, uma subida de menos de 1.500 Kz para a alimentação mensal da família”, explica, antes de deixar uma questão:”alguém acredita que os preços em Julho deste ano tenham subido menos do que em Janeiro, Fevereiro e Março de 2022, como afirma o INE?”