Um esquema milionário envolvendo funcionários bancários, técnicos de manutenção de ATMs e comerciantes está a causar prejuízos significativos a milhares de clientes bancários em Angola, conforme apurado por este site de notícias através de denúncias de clientes e investigações conduzidas para apurar.
Segundo as denúncias verificadas, alguns funcionários de bancos responsáveis pelo aprovisionamento dos ATMs têm deliberadamente causado falhas técnicas nas máquinas, deixando-as inoperacionais por longos períodos. Em outros casos, bancos que subcontrataram empresas de manutenção para realizar o aprovisionamento também estão envolvidos, com funcionários destas empresas criando avarias propositalmente. Sem acesso aos ATMs, a população, que diariamente depende destes serviços, acaba recorrendo aos comerciantes próximos, que oferecem serviços de levantamento de dinheiro através de Terminais de Pagamento Automático (TPAs), cobrando comissões que variam entre 10% e 15%.
A reportagem constatou que, em muitos casos, são os próprios comerciantes que informam os clientes sobre a indisponibilidade dos ATMs e imediatamente oferecem seus serviços de levantamento.
Uma fonte conhecedora do esquema explicou que, em alguns bancos, os ATMs funcionam apenas durante a noite, e quando há dinheiro disponível, indivíduos com vários cartões bancários realizam levantamentos de grandes quantias, aproveitando-se do limite diário de 100 mil kwanzas por cartão. Com múltiplos cartões, é possível levantar entre um a dois milhões de kwanzas por noite, e no dia seguinte, esses mesmos comerciantes oferecem o dinheiro a taxas exorbitantes, lucrando consideravelmente com o esquema.
O esquema se intensifica no final e início de cada mês, período de maior procura por dinheiro devido ao pagamento de salários e à necessidade de realizar compras no mercado informal, onde o uso de dinheiro em espécie é essencial. Este esquema, que ainda não foi detectado pelo Banco Nacional de Angola (BNA), pode estar diretamente ligado ao aumento exponencial dos levantamentos realizados através de TPAs.
Dados recentes mostram que a Rede Multicaixa registrou, num único dia, mais de 50 mil levantamentos de numerário em TPAs, um recorde transacional de acordo com a Empresa Interbancária de Serviços (EMIS). Este serviço de levantamento de dinheiro, que visa melhorar o acesso a produtos financeiros, especialmente para pessoas de baixa renda e microempreendedores, está a ser explorado por este esquema, prejudicando a sua função original de inclusão financeira.
O Banco Nacional de Angola (BNA), que em março elevou a comissão cobrada ao cliente para operações de levantamento de numerário em TPA de 1% para 2,5%, precisa intervir com urgência para investigar e desmantelar esta rede que vem prejudicando tanto os clientes quanto o sistema financeiro do país.
Clientes e observadores apelam às autoridades competentes para que tomem as medidas necessárias e impeçam a continuidade deste esquema que, se não for controlado, poderá causar ainda mais danos à economia e à confiança no sistema bancário angolano.