O ex-BESA e atual presidente da Printer Portuguesa, Álvaro Sobrinho, anunciou no Parlamento que, depois do arresto das contas da gráfica, “morreu a esperança”. “Não vejo saída senão a provável insolvência da Printer”, disse Sobrinho, responsabilizando o juiz Carlos Alexandre e os ataques reputacionais pela situação negativa da empresa
Álvaro Sobrinho, ex-BESA e presidente do conselho de administração da Printer Portuguesa, foi ao Parlamento, esta quarta-feira, 5 de julho, justificar-se perante os deputados pela situação atual da gráfica localizada em Sintra, e defendeu a sua atuação na empresa. “Um gangster quer ganhar dinheiro, não quer perder dinheiro. Eu não sou gangster. Não há nenhum gangsterismo”, disse.
Acusado de ter paralisado a laboração e impedido o acesso pelos trabalhadores às instalações, de pagar de forma irregular os salários, deixados sem informações sobre a situação da empresa e sobre a própria situação laboral, Álvaro Sobrinho responsabilizou o juiz Carlos Alexandre, que decretou o arresto das contas da empresa. Esse congelamento, disse, tem um efeito: “não vejo saída senão a provável insolvência da Printer”.
“Fatores exógenos danificaram o que é o grande goodwill da empresa: a sua imagem”, disse. “Morreu a esperança e mesmo que venha agora” o desbloquear dos fundos pela justiça, “é sempre tardia”.
O antigo presidente do BES Angola (BESA), comparecendo na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão a requerimento do Bloco de Esquerda, declarou que a incapacidade de proceder a pagamentos de salários, matérias-primas e energia deve-se ao arresto das contas da Printer decretado por Carlos Alexandre, e não ao arresto dos bens pessoais de Sobrinho.
“Os meus bens estão arrestados desde 2011. Nós compramos a Printer em 2012. Durante este período sempre tive os meus bens arrestados”, disse, criticando a decisão do juiz e sugerindo que o arresto deveria ter incidido sobre as ações.
Sobre o pagamento fracionado aos trabalhadores, Sobrinho responsabiliza “um ataque informático” cuja gravidade “deixou a Printer sem sequer saber como poder fazer o pagamento dos salários (…) a administração foi confrontada num fim de semana numa situação de incapacidade real de fazer face aos pagamentos”.
Garantiu que não há nenhum “lock-out” – quando a empresa paralisa a laboração e impede os trabalhadores de acederem às instalações. Alegadamente, segundo Sobrinho, uma inspetora da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) “verificou in loco que era impossível os trabalhadores entrarem dentro da fábrica” por razões de segurança relacionadas com a maquinaria.
O empresário informou a Comissão de que investiu 12 milhões de euros na empresa depois da aquisição; e garantiu que a preocupação é a viabilidade da gráfica: “estou preocupado com os trabalhadores da Printer. Estou preocupado com os trabalhadores da linha de Sintra (…) o que eu estou a defender é exatamente os trabalhadores”.
“Se eu tivesse roubado em Angola, não era problema seu”
De acordo com o requerimento apresentado pelo partido, os 120 trabalhadores da gráfica localizada em Sintra “estão a ser afastados dos seus postos de trabalho e impedidos de entrar na empresa desde o passado dia 24 de abril”, no que o BE descreve como um “lock-out” efetivo.
Os trabalhadores da Printer estão, também, a receber salários de forma fracionada, alega o BE. Segundo o requerimento, a Printer justificou aos trabalhadores os pagamentos em parcelas com o arresto dos bens de Sobrinho, atualmente a braços com a justiça, suspeito de crimes de burla e abuso de confiança relacionados com a sua atividade no BESA.
Álvaro Sobrinho iria ser ouvido na segunda-feira no âmbito da instrução do processo-crime por alegados desvios no antigo negócio angolano do BES, tendo prescindido de prestar depoimento.
Na Comissão, Sobrinho, não tendo respondido a várias perguntas dos deputados, reservou grande parte das intervenções para criticar o Parlamento e, em particular, as considerações o deputado bloquista José Soeiro, um dos requerentes da audição, que o acusou de “gangsterismo financeiro”.
Aos deputados, Sobrinho atirou: “vocês vêm tudo mal. A minha parte filantrópica a nível mundial vocês não relevam”.
Apesar de, no requerimento do BE, não constar nenhuma alusão direta à atividade de Sobrinho em Angola, nem à nacionalidade do depoente, Sobrinho atacou o teor da intervenção do BE, classificando as considerações “preconceituosas, que roçam o racismo”. E comparou-as à controversa intervenção do Chega no Parlamento: “um partido político, que até se diz que é de extrema-direita, quando falou dos turcos toda a gente lhes caiu em cima. E os angolanos?” Soeiro protestou: “Nós nunca nos referimos a características do povo angolano. Nós sempre dissemos que o povo angolano é vítima de oligarcas como o Dr. Sobrinho”.
Sobre as considerações de Soeiro sobre a participação de Sobrinho no que chamou de oligarquia angolana, o ex-líder do BESA vincou: “supondo até que eu tivesse roubado a Angola, é um problema de Angola, não é problema seu”.
Ao BE, sobre a defesa dos trabalhadores (tendo alguns destes, segundo o partido, recorrido a instituições de solidariedade para garantir a alimentação das suas famílias), invetivou: “vocês não têm moral nenhum para isto. Vocês despediram gente”, sem concretizar quem e quando.
“Sei que amanhã, no Esquerda.net, estou desgraçado. Mas isso pouco me assusta quando para mim eu durmo descansado com o que faço na vida”, frisou.
Fonte: Expresso