Bancos portugueses lucram 1,3 mil milhões no 1.º semestre

Os seis maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI e Banco Montepio – juntos somam lucros de 1.292,8 milhões de euros. O ranking dos lucros é liderado pela CGD com resultados consolidados de 486 milhões, mas a surpresa é que o Novobanco ultrapassou todos os bancos privados ao apresentar resultados de 266,7 milhões de euros, acima do Santander Totta (241,3 milhões); do BPI (201 milhões); do BCP (74,5 milhões de euros); e do Banco Montepio (23,3 milhões).

António Ramalho quis fazer uma saída de Leão e o Novobanco apresentou os maiores lucros da banca privada.

Na comparação com junho do ano anterior os bancos que mais subiram foram o BCP, que apesar de ter lucros muito parcos em comparação com os pares, ainda assim foram superiores em 507,40% ao período homólogo do ano anterior. Também o Montepio tem uma evolução significativa porque passa de prejuízos de 33 milhões no primeiro semestre de 2021, para lucros de 23,3 milhões no primeiro semestre deste ano.

O Novobanco também registou uma subida de 93,70% num ano, enquanto a CGD viu os lucros subirem 65% num ano. Na Caixa o contributo da atividade doméstica para o resultado líquido do grupo em junho de 2022 foi de 377 milhões de euros, o que compara com 232,7 milhões (+62%) no mesmo período do ano anterior.

O BPI registou uma subida modesta dos lucros, de apenas 9%. O BPI obteve um resultado consolidado de 201 milhões no primeiro semestre. A atividade em Portugal contribuiu com 85 milhões de euros, mais 17% do que um ano antes.

Mas todos sabemos que o indicador mais adequado para avaliar a rentabilidade de um banco é o Return on Equity (ROE), a rentabilidade dos capitais próprios. Apesar de não ser um rácio diretamente comparável, porque uns apresentam o RoTE (Return on Tangible Equity) e outros o ROE, verifica-se que o mais rentável neste momento é a CGD com 11,5% de ROE. Deduzido de efeitos não-recorrentes, foi alcançada uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 10,6% pela Caixa.

O Novobanco, passa de patinho feio a banco mais rentável, com um RoTE de 11% (antes de impostos).

O Santander Totta, por sua vez, reportou uma rentabilidade medida também pelo RoTE de 10,50%.

O Banco Montepio divulga o resultado antes de impostos/capitais próprios médios que é de 6,5%. Mas, contas feitas, o resultado líquido do Montepio é 1,5% do capital próprio.

O BPI reportou um RoTE de 6,40% em Portugal.

O pior dos grandes bancos em rentabilidade dos capitais próprios é o BCP, que registou um ROE de 2,81%. Muito fustigado pelos problemas da subsidiária na Polónia (Bank Millennium) detido em 50,1% pelo BCP e por isso com consolidação integral das contas, o banco liderado por Miguel Maya pode dizer claramente que a rentabilidade não compensa o custo do capital.

O BCP reportou os efeitos extraordinários relacionados com o Bank Millennium que impactaram nas suas contas do primeiro semestre e que incluem encargos de 257,8 milhões associados à carteira de créditos hipotecários denominados em francos suíços, a contribuição de 54,3 milhões para o novo Fundo de Proteção Institucional (IPS) que foi criado na Polónia para garantir a estabilidade financeira e o registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros.

A principal questão à volta do BCP é até onde é que o banco português aguenta a situação da Polónia e a incerteza económica sem pedir dinheiro aos acionistas?

Qualidade da carteira de crédito: Montepio pior mas a melhorar

Analisando a qualidade da carteira de crédito, os piores são claramente o Banco Montepio, com um rácio de malparado (Non-Performing Exposures – NPE) de 7,7%, o mais alto do sector e o rácio de cobertura por imparidades é de apenas 53,80%. Há no entanto a destacar o caminho que está a fazer o banco liderado por Pedro Leitão de redução das exposições não produtivas (NPE) em 16,4% num ano. O custo do risco do crédito que está relacionado com a novas imparidades para crédito no período ficou em 0,10%.

O Novobanco é o segundo pior, mas também vem de um ponto de partida adverso, herdou o malparado do BES.

O Novobanco chegou a junho com um rácio de créditos não produtivos (NPL) de 5,4% que compara com 5,7% em dezembro do ano passado e 7,3% em junho de 2021. Faltou a Ramalho a aprovação pelo Fundo de Resolução da venda da carteira de grandes devedores, chamada de Harvey, para fechar os seus últimos resultados com um rácio de malparado abaixo dos 5% recomendados pela Autoridade Bancária Europeia.

O rácio de cobertura por imparidades fixou-se em 73,0%, “em linha com a estratégia de de-risking e aproximando-se do rácio médio dos peers europeus”. O Grupo Novobanco registou até 30 de junho “um reforço de imparidades e provisões no montante de 19,8 milhões, apresentando uma redução face aos valores registados no período homólogo”, diz o banco

No fim do ano passado o Novobanco concluiu a venda de crédito malparado da carteira de NPL “Harvey”, o portefólio de single-names de créditos não produtivos e ativos relacionados tinha o valor de 164,4 milhões de euros, e que foi vendido por 52,3 milhões de euros ao fundo Deva Capital Management Company e à AGG Capital, do grupo Arrow.

Uma vez que são créditos cobertos pelo mecanismo de capitalização contingente, o Fundo de Resolução foi chamado a dar luz verde, mas até agora não a deu.

O Novobanco chega a junho com um baixo custo do risco (de 15 pb) reflexo da estratégia de redução de risco das carteiras. Em junho de 2021 reportava um custo do risco de 0,68% (68bps ou 40bps ex-provisões Covid-19).

O BCP fechou o semestre com um rácio de Non Performing Loans (malparado) de 1,5%. No entanto o rácio de Non Performing Exposure ficou em 4,3% do total do crédito. O rácio de cobertura por imparidades é de 64,50%.

O BCP, “no primeiro semestre de 2022, as dotações para imparidade do crédito (líquidas de recuperações) totalizaram 179,4 milhões de euros, apresentando um aumento de 14,3% face aos 156,9 milhões de euros contabilizados no mesmo período de 2021”, refere o comunicado.

O custo do risco de crédito ficou em 0,61%. A evolução das dotações para imparidade (líquida de recuperações), em termos consolidados, “traduziu-se num aumento do custo do risco do grupo Millennium BCP, líquido de recuperações dos 55 pontos base observados no primeiro semestre de 2021, para 61 pontos base no mesmo período de 2022”. Na atividade em Portugal, o custo do risco (líquido de recuperações) evoluiu de 64 pontos base no primeiro semestre de 2021, para 69 pontos base no mesmo período este ano.

A CGD reportou um baixo rácio de sinistralidade do crédito e reduzida exposição a crédito non-performing (2,6% e 2,1%, respectivamente). Para o crédito NPL o rácio de cobertura por imparidades é de 108,8%, para os NPE a cobertura por imparidades é de 99,7%.

A qualidade dos ativos beneficiou da descida do rácio de NPL para 2,6%, enquanto o rácio NPL líquido de imparidades totais permaneceu em 0% (zero). Os imóveis detidos para venda reduziram 15% para 339 milhões de euros, o valor mais baixo desde 2008, explicou a CGD.

“A evolução registada na carteira de crédito desde o fim das moratórias, no âmbito da pandemia, tem um impacto relevante no resultado, permitindo a reversão parcial de imparidades constituídas preventivamente em exercícios anteriores, nomeadamente nos anos de 2020 e 2021”, acrescenta a Caixa.

De acordo com a instituição financeira liderada por Paulo Macedo, a evolução dos resultados líquidos “reflete um menor custo do risco de crédito no período após a fase mais aguda da pandemia e a venda de alguns ativos não core, bem como o contributo da atividade internacional para o resultado líquido do grupo, no valor de 109 milhões de euros, cerca de 22% do total, um crescimento de 77% face ao primeiro semestre de 2021”.

O Santander Totta reportou um rácio de NPE de 2,20% e um rácio de cobertura por imparidades de 82,10%. O custo do risco de crédito é o mais baixo do sector, com apenas 0,01%.

Já o BPI reportou um rácio de NPE de 1,6% e de NPL de 2% e uma cobertura por imparidades de 84%. A boa qualidade da carteira de crédito é uma bandeira do banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa.

As imparidades somaram 28 milhões em junho e as recuperações de crédito somaram dois milhões. As imparidades líquidas de recuperações somam assim 28 milhões. O custo do risco de crédito em junho foi de 0,09%.

Quem ganhou mais face ao ano anterior?

O que temos de atividade core? No lado das receitas a margem financeira cresceu na CGD (20,60%); no BCP (28,60%); no BPI (6,0%) e no Banco Montepio (5,60%). Mas caiu no Novobanco (-7,30%) e no Santander Totta (-3,40%).

As receitas de comissões líquidas em todos os bancos apresentaram um crescimento face ao montante apurado no mesmo período do ano anterior refletindo em larga medida a progressiva normalização da atividade económica.

O banco liderado por Pedro Castro e Almeida foi o que mais receitas obteve com comissões face ao ano anterior (+17,90%); seguiu-se a CGD que registou um aumento das receitas com comissões de 13,40%; depois o BPI (+11%); o BCP (+9,80%); o Montepio (+8,60%) e o Novobanco com uma subida de 6,50% das comissões.

Com isto o produto bancário dos seis bancos soma 1.856,9 milhões de euros, o que numa média simples daria uma receita por cada um dos seis bancos de 309,4 milhões. Mas o panorama não se traça numa média simples. O BCP liderada em produto bancário (1.283,4 milhões); depois a CGD com 1.025,9 milhões; o Santander Totta com 612,9 milhões; o Novobanco com 571,5 milhões; o BPI com 494 milhões e o Montepio com 178,5 milhões. Em quase todos os bancos se verifica uma subida do produto bancário, excepto no Santander Totta que reportou uma queda de -14,50% face a junho do ano passado.

Quem deu mais crédito face ao período homólogo?

O banco que deu mais crédito face ao período homólogo do ano anterior foi BPI, que viu a carteira de crédito subir 8% (incluindo aqui o crédito ao sector público). O Novobanco regista uma subida de 4,20%. A larga distância a CGD viu a carteira de crédito subir 2,70%. Depois o BCP reportou uma subida de 2,10%. Por fim, o Banco Montepio registou uma subida de 1% da carteira de crédito. No entanto salientou que a carteira de crédito a clientes (líquido de imparidades) aumentou para os 11,9 mil milhões de euros, registando uma subida de 2,2% face ao valor de dezembro de 2021.

Quem praticamente não viu o crédito subir (+0,50%) foi o Santander Totta. No entanto o banco liderado por Pedro Castro e Almeida é o que tem a maior folga de capital para investir no crescimento da atividade. O rácio de capital core (Common Equity Tier 1) do Santander Portugal é de 21,4% (na versão fully loaded).

Em termos de capital o segundo melhor é a CGD com 18,5%; o BPI com 13,60%; e o Banco Montepio com 12,60%.

Abaixo do Montepio, em rácio de CET1, ficam o Novobanco (11,80%) e o BCP (11,30%). Este é aliás um ponto fraco do banco liderado por Miguel Maya.

Na captação de poupanças o campeão é, sem surpresas, a Caixa, com 82,3 mil milhões de euros de depósitos (a subir 7,90% face a junho de 2021). Segue-se o BCP com 73,2 mil milhões de euros (+7,50%); o Santander Totta com 40,2 mil milhões (+6,90%); o BPI com 29,96 mil milhões (+9%); o Novobanco com 28,4 mil milhões (+5,60% e o Montepio com 13 mil milhões de depósitos (+3,30%).

Quem é o mais e o menos eficiente?

Por fim comparemos a eficiência. O rácio de custos sobre proveitos favorece o Santander Totta que tem o rácio mais baixo, logo melhor (39,60%); segue-se o BCP (40,20%); a CGD com um rácio de cost-to-income de 43,40%; o BPI com 44,9% (53,2% na atividade em Portugal); o Novobanco com 51%; e o pior de todos é aqui o Banco Montepio com 67%. Mas temos de olhar também para a evolução dos custos.

O maior corte anual de custos foi feito no Santander (-14,60%) e logo depois no BCP (-12,50%). Estão aqui incluídos os custos com pessoal. Depois o Montepio foi o terceiro na redução de custos (-6,10%).

De resto, quer a CGD, quer o Novobanco, quer o BPI registaram um aumento dos custos operacionais (5% na CGD; 2,20% no Novobanco e 2% no BPI).

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