O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia mundial tenha uma recessão de três por cento em 2020, fruto do apelidado “Grande Confinamento” devido à pandemia de covid-19, de acordo com as Perspetivas Económicas Mundiais hoje divulgadas.
O FMI, que pela expressão da sua economista-chefe, Gita Gopinath, apelidou o actual momento de recolhimento devido à pandemia de covid-19 de “Grande Confinamento”, assinala que a quebra no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, como algo “muito pior” do que aconteceu na “Grande Recessão” de 2008 e 2009.
“É muito provável que este ano a economia mundial vá viver a sua pior recessão desde a Grande Depressão de 1929, ultrapassando aquela a crise financeira global de há uma década”, pode também ler-se na nota de entrada do relatório escrita por Gita Gopinath.
A recessão de três por cento prevista pela instituição sediada em Washington tem como base um cenário que “assume que a pandemia desvanece na segunda metade de 2020 e que os esforços de contenção podem ser gradualmente relaxados”, de acordo com o relatório do FMI.
Nesse cenário, “é projectada que a economia cresça 5,8 por cento em 2021, à medida que a actividade económica normaliza, ajudada pelo apoio de políticas”.
“É assumido que as disrupções estejam sobretudo concentradas no segundo trimestre de 2020 para quase todos os países excepto a China, com uma recuperação gradual depois, à medida que a economia tem algum tempo para aumentar a produção depois do choque”, segundo o FMI.
No entanto, “há uma incerteza extrema à volta das projecções para o crescimento mundial”, já que “a quebra económica depende de factores que interagem de maneiras que são difíceis de prever”.
A instituição liderada por Kristalina Georgieva destaca como esses factores a ter em conta “os caminhos da pandemia, a intensidade e eficácia dos esforços de contenção, a extensão das disrupções na oferta, as repercussões do aperto dramático das condições nos mercados financeiros mundiais, mudanças nos padrões de despesa, mudanças de comportamentos, efeitos na confiança, e os preços voláteis das matérias-primas”.
Caso as paragens na actividade económica sejam persistentes, as “medidas orçamentais terão de ser aumentadas”, segundo o FMI, que assinala que “estímulos orçamentais de base alargada podem evitar um declínio mais acentuado na confiança, aumentar a procura agregada, e mesmo evitar uma queda mais profunda”.
“Mas provavelmente seriam mais eficazes, uma vez finalizado o surto, e quando as pessoas se puderem mover livremente”, pode ler-se no documento hoje divulgado.
Mais à frente no documento, o FMI defende que “as medidas de contenção adiantadas são essenciais para abrandar a disseminação do vírus e permitir aos sistemas de saúde aguentarem, abrindo caminho para um recomeço antecipado e robusto da atividade económica”.
“A incerteza e uma procura redução de serviços poderia ser ainda pior num cenário de maior disseminação do vírus sem distanciamento social”, alertam os economistas do fundo.
O FMI destaca como considerações chave para o entendimento da crise associada à pandemia de covid-19 “a natureza do choque”, diferente de todos os anteriores, os “canais de amplificação” da crise para vários sectores da economia, incluindo os mercados financeiros, “indicações antecipadas de uma quebra económica severa”, a “descida acentuada nos preços das matérias-primas”, com os mercados de « futures » a indicar que o preço do petróleo ficará abaixo dos 45 dólares até 2023, e ainda “condições de financiamento mais apertadas” nos mercados financeiros, em parte compensadas pelas atuações dos bancos centrais.