Tivemos em Portugal o dilúvio eleitoral de domingo passado. Luta-se para que a poeira assente, mas está difícil. Um turbilhão de ideias, conjeturas e suspeições passa-nos pela cabeça nestas horas e dias do pós-10 de março. A disputa foi tão renhida que quem venceu (Aliança Democrática, com o PSD como força principal) teve somente dois deputados […]
Tivemos em Portugal o dilúvio eleitoral de domingo passado. Luta-se para que a poeira assente, mas está difícil. Um turbilhão de ideias, conjeturas e suspeições passa-nos pela cabeça nestas horas e dias do pós-10 de março. A disputa foi tão renhida que quem venceu (Aliança Democrática, com o PSD como força principal) teve somente dois deputados a mais do que o segundo mais votado, o Partido Socialista. Repito: dois deputados apenas a mais!
Existindo embora uma diferença substancial entre os dois cenários, veio-me, contudo, à memória o momento eleitoral de um país distante uns 7 mil quilómetros, em 2022: Angola.
Quando o MPLA conquistou a sua vitória, com os votos mais do que suficientes para continuar a governar folgadamente, surgiram dois alquimistas com lições (desastradas) para dar a quem tinha pachorra para os escutar, obviamente os amigos de velhas conveniências e cumplicidades. Paulo Portas e Marques Mendes defenderam publicamente que o MPLA tinha de se unir à UNITA… para governar em paz.
Hoje, quando temos a vitória tangencial definida por simples dois assentos parlamentares, é vê-los a ambos quietinhos num silêncio bíblico, como que a confirmar que a receita válida para Angola só mesmo lá é que se deve aplicar.
Paulo Portas e Marques Mendes têm à mão Luís Montenegro, o putativo primeiro-ministro pela sua AD, mas não se sentem com fôlego nem descaramento para aconselhá-lo a partilhar o poder com o Partido Socialista que, afinal, está ali tão perto, a morder-lhe os calcanhares. A tal governação em paz do MPLA e a UNITA numa fórmula partilhada não serve para Portugal? Para os dois “artistas” – vê-se – estas receitas são boas de testar lá longe, intramuros nem pensar!
Com o mesmo arrojo de 2022 no caso de Angola, Paulo Portas e Marques Mendes bem que poderiam dar nas vistas agora também lançando apelos à AD para que partilhe o poder com quem afinal ficou a uma brevíssima distância de só dois deputados. Que tal esta aliança fraterna para governar Portugal em paz?
Por Jorge Cosme, gestor de empresas in O Novo