O Último Candidato

“Se o homem faz de si mesmo um verme, ele não deve se queixar quando é pisado”, Emmanuel Kant

O MPLA, segundo a nossa percepção, apresenta-se nestas eleições com um candidato presidencial que possui um nível de rejeição muito elevado.

Por Lazarino Poulson

Apesar de popular, João Lourenço representa o passado. Nem mesmo a sua “bandeira” de governação— o combate à corrupção, que o tornou famoso — o ajuda nesta fase, pois a empreitada de impunidade que iniciou para o efeito perdeu-se numa intrincada teia selectiva, agravada inadvertidamente por ajustes directos em doses industriais, converterando-o num candidato nada promissor.

O MPLA perdeu no último congresso uma extraordinária oportunidade de rejuvenescer de vez a liderança. Depois da saída de José Eduardo dos Santos em 2017 da Presidência da República e em 2018 da Presidência do MPLA, João Lourenço ficou órfão da bicefalia que, em certa medida, o favorecia, colocando-se diante de desafios para os quais não se mostra ajustado.

O MPLA não soube ler os sinais dos tempos e não ofereceu para estas eleições um candidato mais apelativo na forma e no conteúdo.

Apesar de apoiado pela poderosíssima máquina partidária alicerçada numa vasta teia de órgãos públicos, ao candidato do MPLA falta o savoir-faire capaz de galvanizar e seduzir o jovem eleitorado — que é só, curiosamente, a maioria!

O MPLA tem no seu seio outras valias que poderiam emprestar “jovialidade” à liderança do partido. Mas, por razões várias, estes intelectuais feitos políticos, alguns dos quais jovens de idade, outros apenas arejados nas ideias, acantonaram-se timidamente nas várias estruturas partidárias perfilhando Parkinson.

O resultado está à vista de todos — uma sucessão encandeada de actos mal concebidos e pior executados. O desempenho do candidato do MPLA na campanha eleitoral é sofrível e os seus discursos são tão confrangedores que os soundbites deles extraídos são alvos de indignação colectiva, quando não se tornam motivos de chacota.

Não é obrigatório que um candidato presidencial seja um “fidalgo” ou que seja um intelectual de alto nível, mas é recomendável que não seja despreparado para o cargo ou que pelo menos não tenha uma relação tortuosa com a oratória.

O MPLA tem, nos próximos dias, de arranjar soluções para os votos de protesto que aumentam a medida que ouvimos o seu candidato presidencial. E parece que a solução também não está na sua candidata à Vice -Presidência da República, na medida em que ela entra nos comícios muda e sai deles calada, num exercício de pantomima que só teria êxito se o eleitorado fosse composto apenas ou maioritariamente por surdo-mudos.

Como se vê, o MPLA só poderá queixar-se de si mesmo se perder o poder por razões internas. Mais do que o mérito da oposição — que tem muito, uma eventual derrota do MPLA no dia 24 de Agosto será mais por demérito deste partido.

O MPLA colocou-se a jeito quando optou por não trazer à disputa eleitoral os seus melhores trunfos.

O silêncio dos “barões” do partido é ensurdecedor e a única vez que os vimos quebrar numa conferência de imprensa “ a emenda saiu pior que o soneto”.

De facto, “ o rei vai nu” numa procissão que o torna, possivelmente, no ultimo candidatado a ganhar eleições e o primeiro a perdé-las.

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