Angola afasta-se da China e faz cimeira com Estados Unidos

Enquanto Pequim albergava o Fórum para a Cooperação China-África, Angola anunciou que vai receber, no próximo ano, a Cimeira de Negócios EUA-África. Mais um sinal do arrefecimento das relações entre os governos chinês e angolano.

No plano oficial, as relações entre Angola e a China são pautadas pela normalidade. Nos bastidores, são cada vez mais evidentes os sinais de afastamento entre os dois países e uma aproximação de Luanda a Washington. O acordo assinado pela China com a Zâmbia e a Tanzânia, no âmbito do Fórum para a Cooperação China-África (FOFAC), realizado em Pequim e concluído na passada sexta-feira, é um sinal inequívoco desta realidade.

A China fechou um financiamento à Zâmbia e Tanzânia destinado a reabilitar a linha ferroviária de Tazara, a qual liga o centro do primeiro país ao porto de Dar es Salaam, capital do segundo, numa extensão de aproximadamente 1.900 quilómetros. A recuperação desta ligação visa oferecer uma rota alternativa de transporte de carga para o cobre e o cobalto da Zâmbia através do Oceano Índico, concorrendo com o corredor do Lobito, apoiado pelos Estados Unidos, que termina no porto do Lobito, no Atlântico.

A importância deste investimento ficou patente no facto de o memorando de entendimento ter sido assinado pelos presidentes da China, Tanzânia e Zâmbia, Xi Jinping, Samia Suluhu Hassan e, Hakainde Hichilema. Pequim compromete-se a disponibilizar mil milhões de dólares (901 mil milhões de euros) para a reabilitação desta ligação ferroviária que se assume claramente como uma alternativa ao corredor do Lobito.

Este acordo explica, parcialmente, a decisão do presidente angolano, João Lourenço, de cancelar a sua presença no FOFAC, opção que deixou os chineses “furiosos”, tal como o Negócios avançou na edição da passada segunda-feira do Radar África.

No decurso do FOFAC, o governo chinês comprometeu-se a investir mais de 46 mil milhões de euros nos países africanos nos próximos três anos. O foco vai estar em parcerias que envolvam cadeias de abastecimento de minerais essenciais para o desenvolvimento de tecnologias verdes, incluindo baterias para veículos elétricos.

Uma cimeira com mais de 1.500 participantes

Em política raramente existem coincidências. Nesta medida, é eloquente que tenha sido anunciado a 6 de setembro, precisamente no decurso do fórum promovido pela China, que Angola irá receber no próximo ano a Cimeira de Negócios Estados Unidos-África.

O entendimento que materializa a realização deste evento foi assinado por Agostinho Van-Dunem, embaixador de Angola nos EUA, e Florizelle Liser, presidente do Corporate Council on Africa (CCA).

Um comunicado divulgado pela embaixada salienta que esta escolha resulta de um encontro entre João Lourenço e Florizelle Liser, em maio deste ano em Dallas, no Texas.

“Neste encontro, os dois interlocutores ressaltaram o potencial económico de Angola, a sua importância estratégica em África, o interesse norte-americano em aumentar o envolvimento do Governo dos EUA e do seu setor privado na relação comercial com África, assim como a capacidade dos EUA e o continente africano, para conjuntamente darem respostas aos grandes desafios internacionais, com realce para a segurança alimentar, a segurança energética, a proteção ambiental e o comércio internacional”, sublinha o comunicado.

Angola espera receber na Cimeira de Negócios de 2025 mais de 1.500 delegados, incluindo chefes de Estado africanos, altos funcionários do Governo dos Estados Unidos, presidentes de companhias, investidores e empresários.

Fonte: Jornal de Negócios

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