António Guterres: Divisão entre EUA e China “tem limitado capacidade para responder à pandemia”

António Guterres

O secretário-geral da ONU preocupa-se que a divisão entre os países, a falta de respeito pelas orientações internacionais e a falta de apoio às organizações mundiais, dificultem o combate à pandemia

Os dois países mais poderosos do mundo, os Estados Unidos e a China, estão a provocar uma divisão tão grande no mundo que “têm limitado a capacidade da comunidade internacional de responder à pandemia”, afirma António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), numa entrevista à RTP. “É uma das maiores debilidades do nosso sistema internacional no presente momento.” Além disso, pode ter consequências significativas na segurança internacional.

“É uma grande rutura que ameaça dividir o mundo em duas áreas, com duas economias separadas, com duas moedas dominantes, com regras económicas e comerciais distintas e com estratégias de inteligência artificial diferente”, diz António Guterres. “Um mundo dividido em dois seria extremamente perigoso.”

O secretário-geral da ONU reforça a importância de um esforço global concertado, em que todos os países do mundo trabalham com o mesmo objetivo. E lembra que “o Acordo de Paris (sobre o clima) não teria sido possível sem o acordo feito, na altura, entre os Estados Unidos e a China”.

António Guterres alerta que “não há maneira de resolver a situação à escala de um país se não for resolvido à escala global”. E que o ressurgimento das tendências nacionalistas, populistas e racistas só aumenta esta dificuldade. “Face a ameaças globais, precisamos de respostas globais”, destaca, reforçando que para isso precisamos de “organizações multilaterais mais fortes”.

Uma das organizações internacionais que mais tem sofrido com o descrédito por parte dos Estados-membros é a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os Estados Unidos cortaram o financiamento e a maioria dos países não seguiu as orientações da OMS no combate à pandemia. “A Organização Mundial de Saúde não tem autoridade sobre os Estados”, destaca António Guterres.

Observador

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *