Iniciou-se, em Lisboa, o aguardado julgamento do caso Banco Espírito Santo (BES), um processo que ocorre dez anos após a falência da instituição dirigida por Ricardo Salgado. Em entrevista à DW, João Paulo Batalha, vice-presidente da Frente Cívica e ex-dirigente da Transparência Internacional Portugal, apontou o BES como uma verdadeira “central de captura de poder político e económico, organizadora de corrupção à escala transnacional”. Entre os países envolvidos nas operações alegadamente ilícitas do banco estão Portugal, Venezuela, Brasil e, em especial, Angola.
Segundo Batalha, o julgamento de Salgado, conhecido como o “Dono Disto Tudo”, que conta com 18 arguidos e mais de 700 testemunhas, é crucial para compreender como o BES operou, não apenas em Portugal, mas também como organizador de esquemas corruptos em Angola. Batalha destaca que a relação entre Salgado e figuras da elite política e empresarial angolana foi central para o funcionamento do banco. Entre as personalidades citadas estão Álvaro Sobrinho, ex-presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), e Hélder Bataglia, ambos com papéis essenciais no grupo BES.
O colapso do BES afetou diretamente o BESA, com Sobrinho sendo acusado de múltiplos crimes, incluindo abuso de confiança agravado e branqueamento de capitais. Segundo o Ministério Público português, o BES expôs-se ao BESA em cerca de 4,8 milhões de euros, resultado de operações financeiras supostamente fraudulentas. Sobrinho, em entrevista à DW África, negou qualquer responsabilidade pela falência do BES e acusou as autoridades portuguesas de adotarem “medidas de coação violentas”.
Batalha enfatiza que, apesar de o julgamento atual centrar-se em crimes cometidos em Portugal, as operações do BES em Angola estarão sempre em pauta. As ligações de Salgado com figuras angolanas como Sobrinho e Bataglia foram fundamentais para os esquemas transnacionais de corrupção. Ele explica que o BES criou, a partir de Portugal, um verdadeiro “import-export” de práticas corruptas que afetaram tanto a economia portuguesa quanto a angolana. O BESA, segundo a imprensa portuguesa, teria concedido créditos ruinosos a figuras próximas do regime angolano, sem garantias, o que contribuiu para a sua queda.