Cabo-verdianos manifestam-se contra governação do país e pedem mudanças

Centenas de cabo-verdianos manifestaram-se hoje nas ruas da cidade da Praia contra a governação do país e da capital, pedindo mudanças em setores como a segurança, justiça, transportes, saúde, emprego ou gestão da coisa pública.

Denominada de “Stadu di Nação” (Estado da Nação), “Sima Nu sta Nu ka podi fika” (Não podemos continuar como estamos), a manifestação foi convocada pela Rede das Associações Comunitárias e Movimentos Sociais da Praia (RACMS), para quem representa “um grito de protesto” contra o estado das coisas.

Com concentração na Praça Alexandre Albuquerque, centro histórico da Praia, os manifestantes foram-se juntando ao longo do percurso nas ruas da capital do país, entoando palavras e expressões de ordem, como “o povo unido, jamais será vencido”, “abaixo o Governo”, “o povo primeiro, partidos depois”.

Mais saúde, mais emprego, mais transportes, mais educação, mais segurança, mais transparência, salário justo ou menos abuso foram alguns dos muitos pedidos dos manifestantes, entre eles crianças, jovens, adultos, de todos os quadrantes sociais.

Os protestantes percorreram a principal avenida da cidade da Praia e foram desviados pela polícia antes de chegar em frente ao Palácio Governo – a lei diz que devem ficar a pelo menos 100 metros das instituições públicas -, o que levou os ânimos a exaltarem-se, com expressões pouco abonatórias sobre o Executivo.

O protesto deveria terminar em frente à Assembleia Nacional, em Achada de Santo António, mas o cordão policial de cerca de 150 efetivos – segundo contas da Lusa, visto que a polícia não avançou dados oficiais – deixou os manifestantes nas imediações da denominada “Casa do Povo e da Democracia”, voltando a enfurecer os manifestantes.

Em declarações aos jornalistas, o porta-voz da Rede das Associações Comunitárias e Movimentos Sociais da Praia (RACMS), Bernandino Gonçalves, disse que o estado da Nação não é o que os cabo-verdianos merecem hoje.

“A insegurança, a justiça que nós temos não é a melhor, o desemprego, as excessivas birras e quezilas partidárias que os cidadãos sentem que bloqueiam as suas vidas no quotidiano”, mencionou o líder comunitário, mostrando-se insatisfeito com a fraca adesão das pessoas, numa cidade com quase 200 mil pessoas, mas disse que a manifestação não é uma iniciativa isolada.

“Nós vamos somar esta manifestação a mais outras intervenções, para tornar a nossa sociedade mais amiga da democracia e da liberdade de expressão”, apontou Bernardino Gonçalves, mostrando-se consciente que uma manifestação não vai mudar substancialmente as coisas, mas chamar a consciência dos governantes do país.

“E os governantes também passam a saber que não têm um cheque em branco de uma eleição até a outra eleição. As pessoas podem a qualquer momento pedir contas”, alertou o porta-voz do movimento social, reconhecendo que a sociedade cabo-verdiana ainda é “bastante partidarizada” e que ainda é preciso fazer um caminho para entender a democracia.

“A nossa fraca cultura democrática pode justificar que menos pessoas apareçam e também que os partidos políticos tentam nos utilizar como arma de arremesso, na situação ou na oposição”, constatou o mesmo responsável, dando conta de alguma pressão, mas garantiu que durante o fim de semana os promotores vão fazer o balanço da manifestação para decidir sobre os próximos passos.

A manifestação de hoje à tarde na Praia sucedeu a outras nos últimos dias, sobretudo reclamações da deficiência nos transportes e de para as ilhas de São Nicolau e da Brava.

Criada em 2020, durante o estado de emergência devido à pandemia da covid-19, a RACMS colaborou com a Câmara Municipal da Praia e com o Governo como intermediário, por exemplo, na distribuição das cestas básicas.

Fonte: Lusa

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