Higino e “Nandó” fazem fila para suceder a Lourenço na liderança do MPLA

O general Higino Carneiro já anunciou oficialmente a sua candidatura à liderança do MPLA. Fernando Piedade Dias dos Santos, que já foi vice-presidente do país, também pondera avançar. Congresso para eleger novo líder realiza-se em 2026.

João Lourenço está a cumprir o segundo e último mandato como presidente de Angola.

Higino Carneiro não é o único histórico do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) que admite candidatar-se à liderança do partido para ocupar a vaga que será deixada por João Loureço. Fernando Piedade Dias dos Santos, conhecido como “Nandó”, é outra das figuras de referência do MPLA que admite avançar com uma candidatura, sabe o Negócios.

“Nandó” ocupou vários cargos de destaque nos governos do antigo presidente José Eduardo dos Santos, tendo sido ministro do Interior entre 1999 e 2022, primeiro-ministro de 2002 e 2008 e vice-presidente do país de 2010 a 2012. Além disso, Piedade dos Santos, agora com 74 anos, foi presidente da Assembleia Nacional em dois períodos, primeiro entre 2008 e 2010 e depois de 2012 a 2022.

Fernando Piedade Dias dos Santos, apesar da sua estreita ligação a José Eduardo dos Santos, nunca foi envolvido em qualquer caso de natureza judicial, ao contrário do que sucedeu a outras figuras proeminentes de Estado angolano que tiveram relações próximas com o antigo presidente, falecido a 8 de julho de 2022.

Em dezembro do ano passado, o seu filho, Cláudio, manifestou a intenção de concorrer à liderança do MPLA, mas esta é uma hipótese vista como remota. “Eu, Cláudio Dias dos Santos, garanto que a minha candidatura irá respeitar os estatutos do partido bem como a promoção e a defesa da democracia”, anunciou então num vídeo enviado à Voz da América.

Higino Carneiro está garantido

Francisco Higino Carneiro já se posicionou irreversivelmente nesta corrida. “Estou a ponderar concorrer à liderança do MPLA, mas o nosso partido tem estatutos. É necessário que o comité central defina os passos para que surjam candidaturas. Havendo essa oportunidade, estarei na linha da frente”, disse o general, que foi governador das províncias de Luanda e do Cuando Cubango e ministro das Obras Públicas (2001-2010), em entrevista à Rádio Correio da Kianda. Higino Carneiro afirmou serem necessárias “mudanças” no MPLA, acrescentando ter “chegado o momento do MPLA recuperar a mística ganhadora que se traduziu ao longo dos anos num partido organizado, forte, coeso, disciplinado e sempre olhando para o futuro com confiança”.

O general, em fevereiro de 2019, chegou a ser constituído arguido em seis processos-crime relacionados com a gestão danosa de Luanda enquanto governador (2016-17), suspeito de peculato, violação de normas de execução do plano e orçamento, abuso de poder, associação criminosa e corrupção passiva e branqueamento de capitais. Todavia, o caso caiu por terra em maio de 2022, altura em que o Tribunal Supremo emitiu um despacho de “despronúncia e arquivamento” dos processos, ilibando assim Higino Carneiro dos crimes que lhe eram imputados.

O congresso do MPLA, no qual se vai decidir a sucessão de João Lourenço, apenas se realizará em 2026, mas estas movimentações mostram que o atual presidente do partido e do país poderá estar a perder a prerrogativa de ser ele a escolher o seu substituto. Avançando tão cedo, Higino Carneiro força desde já um silencioso contar de espingardas no seio do MPLA. A circunstância de ter sido ilibado dos processos criminais em que se viu envolvido constitui uma espécie de carta de alforria, na medida em que liberta o general, atualmente com 68 anos, de narrativas ligadas ao mau uso de dinheiros públicos.

O cargo que falta a Piedade dos Santos

Higino Carneiro, segundo informação partilhada pelos seu círculo de apoiantes, pretende um alteração profunda da Constituição, que permita uma fiscalização pelos deputados dos atos do governo e retirar ou limitar ao máximo a contratação simplificada, prática a que nos últimos tempos João Lourenço tem recorrido com frequência. Tenciona ainda criar uma alta autoridade contra corrupção liderada por magistrados e eleita pela Assembleia Nacional e fazer um pedido de desculpas público pela corrupção que tem vindo a agravar a vida dos cidadãos.

Quanto a Fernando Piedade Dias dos Santos, a chegada à liderança do MPLA que lhe permitirá ser candidato a presidente do país seria o último degrau de uma carreira política durante a qual desempenhou os cargos mais relevantes, abaixo de chefe de Estado, isto é, primeiro-ministro, presidente da Assembleia Nacional e vice-presidente da República. Em todo o caso, fica uma certeza: a procissão que conduzirá à substituição de João Lourenço já saiu do adro.

Fonte: Jornal de Negócios

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