Investigador denúncia promiscuidade entre Lisboa e Luanda.
A promiscuidade nas negociatas luso-angolanas é assunto de comentários internacionais que desprestigiam Portugal, defende professor da Oxford.
Para Ricardo Soares Oliveira, um dos principais especialistas sobre Angola, o argumento de que a defesa estratégica dos interesses portugueses na ex-colónia portuguesa depende do silêncio e da cooperação total com o regime é errado – e usado para proveito de parte da elite portuguesa.
O investigador e professor associado de Política Comparada na Universidade de Oxford e autor de “Magnífica e Miserável, Angola desde a Guerra Civil”, pensa que Portugal tem um espaço de manobra considerável. Não compete a Portugal imiscuir-se de forma quotidiana nos assuntos de Angola, mas mas há casos em que Portugal deve ter uma posição assertiva.
De qualquer modo, esse enfatizar da dependência de Portugal em relação a Angola é uma de várias estratégias que os lobistas de Angola em Lisboa (nos partidos, na banca, nos escritórios de advogados, nos media, nas relações públicas) utilizam para silenciar as críticas ao governo angolano e, mais importante ainda, manter Lisboa como praça permissiva para os interesses do regime.
No contexto angolano, importa manter uma equidistância clara em relação às várias forças políticas do país, e não dar a impressão que os portugueses são prestadores de serviço à elite.
No seu livro, argumenta que o regime e as elites são extremamente dependentes dos portugueses e de outros quadros estrangeiros para a governação e os seus próprios negócios.
Para o investigador, uma fatia dos expatriados não é uma mais-valia para Angola: muitos consultores medíocres usufruíram de contractos milionários e não fizeram nada. O governo angolano necessita de cultivar a este respeito uma atitude altamente pragmática: utilização de expatriados onde eles são necessários, sem qualquer chauvinismo ou xenofobia, mas com um investimento urgente e simultâneo nos recursos humanos angolanos.