Justiça tarda mas não falha: Médico condenado a 24 anos de prisão por participação no genocídio do Ruanda

No final de quase 15 horas de deliberação, Munyemana, de 68 anos, foi considerado culpado de genocídio, crimes contra a humanidade, participação numa conspiração com vista à preparação destes crimes, bem como por cumplicidade.

Munyemana fazia parte de um grupo “que preparava, organizava, comandava diariamente o genocídio dos tutsis em Tumba”, no sul do Ruanda, declarou o presidente do tribunal ao anunciar a condenação.

Ao participar no genocídio em Tumba, Munyemana “participou no genocídio em todo o Ruanda”, referiu o veredicto.

Depois do anúncio, os advogados do ruandês anunciaram de imediato a intenção de recorrer de “uma decisão inaceitável”.

“Nenhum elemento da defesa foi aceite, embora houvesse testemunhos extremamente contraditórios que deixassem muito espaço para dúvidas”, disseram Florence Bourg e Jean-Yves Dupeux.

Os advogados lamentaram que Munyemana, que vive no sudoeste de França desde setembro de 1994, tivesse sido descrito em tribunal “como planeador” de um genocídio. “Tudo o que ele fez para salvar os tutsis saiu pela culatra”, disseram.

O Ministério Público francês tinha pedido ao tribunal uma pena de 30 anos de prisão, sublinhando que “a soma das escolhas de Sosthène Munyemana” entre abril e junho de 1994 “representa os traços de um genocida”.

Sosthène Munyemana é suspeito de ter desempenhado um papel nos massacres, ao assinar uma moção de apoio ao governo interino estabelecido após o ataque ao avião do Presidente hutu Juvénal Habyarimana, que incentivou os assassínios cometidos entre abril e julho de 1994.

De acordo com a ONU, este genocídio deixou mais de 800 mil vítimas, a maioria da etnia tutsi.

O médico também é acusado de ter montado barreiras e patrulhas em Tumba, na prefeitura de Butare, nas quais as pessoas foram presas antes de serem mortas, bem como de ter usado a chave de um escritório do setor onde os tutsis foram presos antes de serem mortos.

Ao longo das cinco semanas de audiências e debates no Tribunal de Justiça, Sosthène Munyemana nunca deixou de contestar as acusações, alegando ter sido um hutu moderado e que “tentou salvar” tutsis, oferecendo “refúgio”.

Fonte: Lusa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *