O líder da oposição do Zimbabué, Nelson Chamisa, vencido nas eleições presidenciais de agosto, anunciou hoje que abandona o seu partido, que diz “contaminado, corrompido e sequestrado” pelo regime que usa “intimidação e violência” contra opositores e cidadãos.
“Com efeito imediato, já não tenho nada a ver com a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC)”, principal partido da oposição do país, declarou o advogado e pastor de 45 anos num comunicado, acrescentando que irá manter os zimbabueanos informados dos seus planos futuros.
“O CCC tornou-se uma extensão do Zanu-PF (sigla da União Nacional Africana do Zimbabué-Frente Patriótica, partido no poder), que assumiu o seu controlo”, prosseguiu Chamisa, acrescentando que se recusa a “nadar num rio com crocodilos esfomeados”
Apelidado de “o crocodilo” devido à sua reputação de autoritário, Emmerson Mnangagwa, 81 anos, foi reconduzido no cargo de Presidente do país da África Austral em agosto.
Acusado de excessos autoritários e de levar a cabo uma vasta campanha de intimidação contra os seus opositores, sucedeu a Robert Mugabe, que foi deposto em 2017, num golpe de Estado.
A oposição denunciou as “eleições fraudulentas” em agosto e reivindicou a vitória. Os observadores internacionais registaram violações de “numerosas normas internacionais”.
Recordando “o assédio incrível e desavergonhado” a que diz terem sido sujeitos durante as campanhas e “a intimidação e a violência infligidas aos cidadãos do Zimbabué durante e após as eleições”, Nelson Chamisa alertou que “o presidente em exercício quer uma oposição controlada pelo Governo”.
Durante a campanha eleitoral, dezenas de comícios da oposição foram proibidos e os opositores detidos. No rescaldo das eleições, cerca de 30 deputados da oposição foram destituídos dos seus lugares por razões obscuras.
Nos últimos meses, vários ativistas da oposição foram atacados e um deles foi encontrado morto depois de ter sido raptado.
Há cerca de vinte anos que o Zimbabué é assolado por uma profunda crise económica. O país é assolado por cortes de energia, escassez e desemprego endémico.
Fonte: Lusa