Apenas 17 dos 43 líderes africanos convidados para a cimeira Rússia-África, marcaram presença. O Kremlin acusou os países ocidentais de sujeitarem os países africanos a uma “pressão sem precedentes” para os dissuadir de participar no evento que aconteceu na última sexta-feira em São Petersburgo.
O presidente angolano João Lourenço, esteve representado pelo seu ministro das Relações Exteriores Téte António.
A ausência do Presidente angolano é motivo de conversa nos bastidores da política. Para alguns analistas, além de uma possível pressão externa, a ausência de Lourenço pode também estar relacionada com o difícil momento que o país atravessa, com uma crise económica sem precedentes, bem como pode ter sido em razão do golpe de Estado ocorrido no Níger.
Lourenço tem tentado manter um certo equilíbrio na sua relação com Moscovo e com Washington, embora seja notório uma inclinação mais para o ocidente, comentou um analista que considera que o Presidente angolano tem “uma batata quente”, sobretudo nesta altura em que a Rússia investe tudo em África e começa a intervir militarmente no continente através do grupo Wagner.
“Como Presidente de Angola, João Lourenço tem a tarefa de navegar em relações internacionais complexas, incluindo a manutenção de laços com grandes potências globais como Rússia e Estados Unidos. Suas interacções com o Presidente russo Vladimir Putin e o Presidente dos EUA, Joe Biden, têm sido assuntos de grande interesse e escrutínio na comunidade internacional”, assinalou.
Angola e Rússia têm uma história de relações diplomáticas que remonta à era da Guerra Fria, quando o país estava envolvido numa guerra civil. Durante a Guerra Fria, a União Soviética apoiou o governo de esquerda do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), enquanto os Estados Unidos apoiaram as forças anti-comunistas da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).
Em Janeiro do corrente ano, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov, esteve em Luanda e lembrou a João Lourenço como a ex-URSS foi essencial para o MPLA, quer durante a luta contra o colonialismo, quer depois da independência.
O diplomata, disse na ocasião que o ocidente “pode trair os aliados” de um momento para o outro e saudou o diálogo com Angola, “apesar da pressão ilegítima dos EUA e seus parceiros”.
As palavras do ministro foram interpretadas como um recado para que o PR angolano não se voltasse muito para o ocidente.
O problema, consideram observadores da política, é que Lourenço precisa de dinheiro ocidental e para tal tem de seguir as regras impostas.
Com a Rússia a lutar para reforçar a sua presença em África e os Estados Unidos e seus aliados a quererem manter a sua hegemonia no continente, a pressão sobre o PR angolano tende a aumentar e qualquer que seja o alinhamento, acarreta consequências, que podem afectar a estabilidade já abalada de Angola, consideram.