Candidato derrotado, segundo os resultados oficiais, havia decretado paralisação geral de sete dias. Diz agora que os protestos só terminam com o reconhecimento da verdade eleitoral. Em Maputo, o dia ficou marcado por mais violência e pilhagens.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 9 de outubro em Moçambique, garantiu que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral. Nas ruas continuaram os protestos, com confrontos com a polícia e pilhagens.
“Se não houver reposição da verdade eleitoral, estas manifestações não vão parar. Vamos ocupar a cidade de Maputo até se devolver a vontade do povo. Caso contrário, a cidade de Maputo vai ficar ocupada de uma forma indefinida. Sem prazo. Até à devolução dos resultados eleitorais. É isso que queremos”, afirmou.
Segundo a Comissão Nacional de Eleições, Mondlane recebeu 20,32% dos votos, e o candidato Daniel Chapo, da Frelimo, 70,67%. O resultado tem de ser ratificado pelo Conselho Constitucional.
Mondlane, que fez o anúncio num direto na rede social Facebook, acusou a polícia de estar a saquear estabelecimentos comerciais e, no bairro de Maxaquene, de ter matado duas pessoas. “O povo está disponível para tomar o poder e vai tomar o poder. A hora já chegou e o povo já tomou o poder”, frisou, referindo-se aos populares que estão nas ruas da capital moçambicana.
Dirigindo-se às forças de segurança e aos militares, Mondlane instou-os a colocarem-se ao lado do povo. “Temos muitos militares que estão neste momento a ter uma ação exemplar, de patriotas. Não temos nenhum registo de um militar que tenha disparado contra o povo. Alguns polícias, nalgumas ruas, estão a colaborar com o povo. Continuem assim e passem a mensagem para outros polícias”, sublinhou.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo que decorreu ontem. Ao oitavo dia de paralisação decorreram manifestações em todo o país, com a generalidade a levar à intervenção da polícia, que dispersou com tiros e gás lacrimogéneo os manifestantes que cortaram avenidas, atiraram pedras e incendiaram equipamentos públicos e privados. No bairro de Maxaquene, nos arredores de Maputo, centenas de pessoas que tentavam ir em direção ao centro foram recebidas com gás lacrimogéneo. Várias foram detidas na sequência de pilhagens a lojas num centro comercial. Segundo um segurança de um centro comercial na Avenida Acordos de Lusaka, no centro de Maputo, “mais de 100 invadiram e vandalizaram duas lojas”. A polícia tentou depois recuperar material roubado, como televisores, telemóveis ou frigoríficos. Na capital moçambicana viam-se grandes colunas de fumo, sobretudo devido a pneus a arder em várias ruas, e ouviam-se constantemente disparos de balas reais e explosões de granadas.
Sem dizer onde se encontra, Venâncio Mondlane afirmou que não está a participar nas marchas a pedido do povo. “Não estou aí nas marchas porque o povo pediu. O povo ordenou: ‘Venâncio não sai de onde você está.’ Estou a cumprir o que o povo me está a obrigar a fazer”, justificou.
Em Lisboa, dezenas de pessoas juntaram-se no Terreiro do Paço para pedirem justiça eleitoral. Entoaram cânticos e gritaram “liberdade ou morte”, enquanto se agitavam cartazes de protesto e bandeiras moçambicanas.
Fonte: Diário de Notícias