Ser um espião da CIA não é um trabalho para qualquer um. A Agência Central de Inteligência dos EUA, responsável por investigar informações de segurança nacional, exige que seus espiões trabalhem em situações extremas, abrindo mão de sua vida privada.
E são muitos os que almejam entrar para este seleto grupo. No processo de seleção, os candidatos têm de estar dispostos a fazer uma entrevista com polígrafo, para detectar mentiras, e passar por exames físicos e psicológicos. Além disso, é feita uma ampla investigação dos antecedentes e da vida do candidato.
A CIA alerta que o postulante deve ser discreto ao expor seu interesse em trabalhar na agência. É imprescindível não mencionar nada sobre o processo selectivo nas mídias sociais e ser o mais sucinto possível ao falar sobre isso com amigos e familiares próximos.
A cobiçada agência recebe milhares de interessados a cada mês e pede paciência, pois o processo completo pode durar vários meses. O pretendente deve ser um cidadão estadunidense e residir no país.
Caso viaje para o estrangeiro, o interesssado nunca deve entrar em contacto com a agência, nem por email, nem por telefone. De fato, quem quiser ter alguma chance de ser um espião, não deve seguir a Agência Central de Inteligência em nenhuma de suas redes sociais, nem interagir por meio de comentários ou compartilhamento de posts. Isto para garantir a segurança do candidato.
Um dos principais pontos de desqualificação é o uso de substâncias ilegais. Antes de enviar o currículo, o sujeito deve certifcar-se de não haver consumido nada ilegal por, pelo menos, um ano antes de apresentar sua candidatura.
Outra questão que pode comprometer o aspirante é o download ilegal de arquivos, incluindo músicas, filmes, jogos ou softwares. Se este for o caso, a equipe de segurança irá avaliar o acto, considerando a quantidade de arquivos baixados, a frequência e a época em que foi feito.
Quem conseguir passar por todas estas etapas começará a fazer um dos trabalhos mais intrigantes e controversos da actualidade: espiar pessoas e países.
Jonna Mendez, ex-directora de disfarces da CIA, explica como é feita a completa mudança de aparência de seus agentes secretos. Em um vídeo para o canal Wired, ela ressalta que o principal objectivo é fazer a pessoa parecer invisível.
Uma das principais preocupações de Mendez, na época em que assumiu a liderança dos figurinos de oficiais da CIA, era protegê-los enquanto trabalham. Isto porque, muitas vezes, eles arriscam suas vidas para obter alguma informação.
O chamado ‘disfarce leve’ é quando o agente usa algum acessório simples para mudar seu visual, como óculos, barba ou um chapéu, por exemplo. Nestes casos, o agente em serviço não inclui o contacto directo com um interlocutor.
Por outra parte, Jonna Mendez explica que se o oficial está numa missão em que precisa interagir pessoalmente com alguém, durante um longo período de tempo, então a melhor opção é usar um disfarce avançado.
Jonna Mendez foi a responsável por apresentar ao então presidente dos EUA, George W. Bush, a nova tecnologia de disfarces avançados: as máscaras.
O disfarce serve para proteger o agente e preservar sua identidade. Neste sentido, o principal objetivo é mudar as características pessoais do espião e transformar aquilo que faria com que você o reconhecesse.
Se a pessoa que queremos disfarçar é um homem calvo, sem barba e com rosto redondo, o recomendado pela CIA é que ele acrescente cabelo, bigode e coloque um óculos que ajude a mudar a percepção do formato de seu rosto.
Além da aparência, alguns casos mais extremos exigem mudanças mais profundas, como a pronunciação do agente. Para fazer isso, é aplicado um molde artificial no céu de sua boca, alterando a maneira como fala.
Os especialistas em disfarces notaram que a população em geral tende a confiar mais em homens mais velhos, por isso, a CIA costuma envelhecer os agentes, aumentando suas chances de conseguir informações de pessoas estranhas.
Mas o difícil trabalho dos espiões vai muito além de tornar-se irreconhecível. Para não ser pego, o espião é treinado a caminhar, falar, gesticular e comer de maneiras diferentes às suas.
Isto porque a maneira como nos comportamos socialmente oferece muitas pistas de nossas origens, classes sociais e culturas, tornando mais fácil rastrear a identidade real de um espião.
Estas características inconscientes são tão difíceis de mudar, que, segundo Jonna Mendez, é importante usar alguma ajuda, como uma cinta elástica no joelho ou uma pedra dentro do sapato, para garantir que um simples caminhar seja modificado.
A ex-diretora de disfarces da CIA deu detalhes de como agem seus espiões: “A troca rápida é a habilidade de, inapercebidamente, mudar sua aparência em locais públicos. Geralmente, o agente usa a multidão à sua volta como uma máscara”.
E acrescentou: “Para fazer isso, medimos o número de passos necessários para mudar o visual. Depois, ensaiamos destemidamente, considerando o tempo que ele tem para fazer a ‘troca rápida’. Geralmente, são poucos segundos.”
A ex-diretora de disfarces da CIA também explicou ao Wired que se houver alguma câmera de segurança, o objectivo seria sumir no meio da multidão, em vez de escapar.
Em outra entrevista, à BBC, Jonna Mendez revelou que “um disfarce ruim é pior do que não ter disfarce. Se alguém perceber que está disfarçado, você está em apuros” Assim, ela garante passarem muito tempo aprimorando técnicas.
Nesta mesma entrevista, Mendez explica que as máscaras eram uma poderosa arma para fazer disfarces perfeitos, capazes de mudar tom de pele, cor do cabelo e idade.
Além disso, depois de anos de aprimoramento, conseguiram fazer uma pessoa parecer idêntica a outra, podendo clonar o agente para que ele pudesse realizar uma missão, enquanto seu clone mantinha o inimigo ocupado.
“Nossas situações mais difíceis foram em Moscou. Precisávamos de acções especiais porque a vigilância ali era muito grande, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Se estivéssemos no trabalho, estavam sentados ao lado, e nossos apartamentos tinham equipamentos de escuta” , disse Jonna Mendez à BBC.
Toda esta experiência faz de Jonna Mendez uma pessoa com muita história para contar. Depois que se aposentou, em 1993, escreveu os livros ‘In True Face’, ‘Spy Dust’ e ‘The Moscow Rules’. Os dois últimos, foram escritos por ele e seu marido, Tony Mendez, o agente da CIA conhecido pela história que inspirou o filme Argo.
Fonte: The Daily Digest