Construtoras portuguesas limitam empresas chinesas em Angola
A consultora Fitch Solutions considerou hoje que a forte ligação das empresas de construção portuguesas e brasileiras em Angola impede que as construtoras chinesas, que valem quase um terço do mercado, tenham uma presença ainda mais significativa.
No relatório, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que “em 35 mercados da África subsaariana, as construtoras chinesas têm uma média de 41%, o que mostra que, apesar de significativa, os 31% em Angola colocam os chineses abaixo da média regional, o que deve acontecer devido à forte presença das empresas portuguesas e brasileiras nesta indústria em Angola”.
Na análise, a Fitch Solutions escreve que “a grande percentagem da construção detida por empresas chinesas em Angola é indicadora de um grande volume de financiamento soberano e também de investimento dedicado a projetos específicos”.
Entre as empresas portuguesas e brasileiras analisadas pela Fitch, a Mota Engil e a Odebrecht destacam-se, com a empresa portuguesa “a ter seis das sete principais obras no país, enquanto a Odebrecht representa 60% das maiores construções brasileiras em Angola”.
Na análise, os peritos da Fitch notam ainda que a parte de projetos internacionais no país financiados pelo Governo de Angola vai diminuir devido à queda das receitas petrolíferas, propiciando um aumento do financiamento internacional do desenvolvimento.
“O setor da construção é caracterizado por uma presença significativa de empresas chinesas e portuguesas, mostrando a forte ligação entre Portugal e Angola”, refere-se no documento, no qual se explica que “uma grande parte dos projetos mais importantes é financiado por Angola, o que deverá diminuir devido à queda das receitas petrolíferas e aumenta, assim, a percentagem de projetos financiados internacionalmente”.
Neste sentido, os analistas lembram que o acordo de assistência financeira assinado no final de 2018 com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 3,7 mil milhões de dólares, cerca de 3,3 mil milhões de euros, prevê a eliminação dos empréstimos pagos em petróleo.
“Esperamos, assim, que o financiamento chinês para projetos fundamentais de infraestruturas diminua, num contexto em que os doadores vão ser atraídos pelas reformas económicas e pelos esforços percecionados de João Lourenço no combate à corrupção, o que vai aumentar a percentagem de projetos de desenvolvimento financiados internacionalmente”, conclui o relatório da Fitch Solutions.