COVID-19: FAMÍLIA “DETIDA” NA GIRASSOL HÁ QUASE UM MÊS

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Um casal e as suas duas filhas, de 1 e 9 anos de idade, encontram-se “detidos”, de modo compulsivo, desde o passado dia 5 de Abril na Clínica Girassol, em Luanda, ainda que desconheçam oficialmente os resultados dos testes efectuados à Covid-19, que as autoridades alegam serem positivos.

A família, mais especificamente, os pais e a filha mais nova, ainda bebé, chegaram a Luanda no dia 25 de Março, provenientes de Lisboa. Tinham estado na capital portuguesa a prestar assistência a um familiar em tratamento médico.

Assim que chegou ao Aeroporto 4 de Fevereiro, a família – que prefere não revelar a sua identidade – foi imediatamente separada, para o cumprimento da quarentena institucional obrigatória: mãe e filha foram enviadas para o Hotel Victoria Garden, na Via Expresso, e o pai foi para o centro de Calumbo, em Viana.

Dias depois, devido à falta de condições no centro de Calumbo, que já aqui reportámos, o pai foi igualmente enviado para o Hotel Victoria Garden, onde reencontrou a sua família e cumpriu os dias de quarentena institucional.

No dia 4 de Abril, receberam alta das autoridades do Ministério da Saúde (MINSA), apoiadas por um documento que confirmava que todos eles – pai, mãe e filha mais nova – tinham acusado negativo no teste da Covid-19 a que haviam sido submetidos no dia 29 de Março.

Entretanto, no dia seguinte, um domingo, a família, que já se encontrava em casa, foi surpreendida por uma visita das autoridades do MINSA, conforme testemunho de uma pessoa ligada à família que, preferindo anonimato, será doravante referida como Paula Miguel.

“Eram por volta das 18 horas e foi lá a casa o pessoal do Ministério da Saúde dizer que a família toda tinha de os acompanhar, porque o teste deles tinha dado positivo”, conta Paula Miguel.

Inconformada, a família confrontou os agentes do MINSA com a nota de alta igualmente emitida por aquela instituição, ao que os agentes terão respondido qualquer coisa como “houve aí um engano qualquer”.

Perante o pedido de que fosse apresentado, então, o novo teste comprovando que a família tinha diagnóstico positivo para o novo coronavírus, as autoridades do MINSA recusaram-se, segundo a denunciante Paula Miguel, e “até hoje nunca mostraram o teste positivo, que é o que temos estado a reivindicar”.

Sem outra alternativa, o casal, a filha mais nova e até a filha mais velha, que não tinha viajado para Lisboa, foram transferidos de sua casa, no condomínio Golden, em Talatona, para a Clínica Girassol, onde permanecem até hoje, sem acesso aos resultados dos seus testes clínicos.

Tanto o pai, de 37 anos, como a filha mais nova entraram para as estatísticas divulgadas pelo MINSA naquele mesmo dia em que foram “resgatados”, quando ainda nem sequer se encontravam na Clínica Girassol.

“Já estava a passar na TPA que havia mais quatro casos de Covid, que descrevia as características do caso deles, e que estavam todos na Girassol. Isto estava a dar na TPA no mesmo momento em que o pessoal do Ministério da Saúde estava lá em casa [no condomínio Golden]”, explica Paula.

Neste momento, os quatro membros da família estão “a tomar cloroquina e azitromicina”, segundo Paula, “mesmo sem apresentarem quaisquer sintomas”.

A menina de 1 ano, considerada em “estado de recuperação”, segundo as informações do MINSA, “passa a vida a correr e a saltar, a pular de um lado para o outro”, assegura-nos a fonte ligada à família.

E a menina de 9 anos, que nem sequer se deslocou a Portugal, foi submetida ao teste da Covid-19, com resultado negativo.

Recentemente, a família repetiu os testes sanguíneos, mas os resultados ainda não são conhecidos.

“O que é certo é que estão lá até hoje”, lamentaPaula Miguel.

Estão lá até hoje, e até hoje permanece também a proibição de circulação imposta aos moradores do condomínio Golden, no Talatona, pelo MINSA, desde o mesmo dia em que ocorreu a recolha dos quatro membros da família, a 5 de Abril.

Ou seja, há já quase um mês que as cerca de cem famílias residentes naquele condomínio não se podem movimentar, nem para aquisição de bens essenciais. Literalmente, “ninguém entra e ninguém sai”.

Um residente do condomínio – que pediu anonimato – falou ao Maka Angola e descreveu como muito complicada a situação a que todos estão sujeitos. “Entramos em crise!”,lamenta.

A partir dos portões protegidos por tropas e polícias, os moradores recebem comida e outros bens, que chegam por intermédio de familiares e amigos que se deslocam ao condomínio para lhes prestar o auxílio necessário: “Chamamos familiares para junto dos portões e recolhemos o que for para consumo.”

Há cerca de uma semana, todos os residentes deste condomínio privado foram testados à Covid-19, com excepção de 16 moradores, de entre os quais Eduane Danilo dos Santos, filho do ex-presidente José Eduardo dos Santos, por alegada “resistência”, segundo a nossa fonte. Mas mesmo estes moradores resistentes, segundo consta, foram “obrigados” a fazer o teste no passado domingo, 26 de Abril.

Até ao momento, os resultados ainda não são do conhecimento público.

A respeito desta denúncia, oMaka Angola entrou em contacto com o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, que nos disse existir “uma lógica de acompanhamento. O doente só sai do hospital depois de ter dois resultados negativos”.

“A criança está a ser seguida sem nenhum problema”, avançou o dirigente.

Quando questionado sobre a falta de acesso aos resultados dos segundos alegados testes positivos, assunto que preocupa a família, Mufinda retrucou que “não é por aí. O caso ainda está em seguimento. Todavia, vamos interagir com a direcção do hospital para estar ao pé da família”. Entretanto, o Ministério da Saúde deverá entregar o resultado dos testes ao final do dia de hoje.

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