Passados 22 anos da morte em combate de Jonas Savimbi, que pôs fim à guerra civil em Angola, muitos cidadãos ainda se queixam da fome e do alto custo de vida. Há uma clara ausência de paz social, diz analista.
Assinala-se esta quinta-feira (04.04) o Dia da Paz e Reconciliação Nacional em Angola. As armas calaram-se a 4 de abril de 2002 após a morte em combate de Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA, o maior partido da oposição angolana.
“Já se vê o calar das armas. Já não há muita turbulência tal como se registava há alguns anos e a democracia já se faz sentir. Então, é muito sucesso até aqui”, diz à DW África José Manuel, morador de Luanda.
Contudo, ainda há “turbulência” social. Recentemente, realizou-se uma greve geral inédita na função pública e, nos últimos anos, milhares de jovens abandonam o país com destino à Europa e à América em busca de melhores condições de vida.
Associa-se a isso problemas nos setores da saúde e da educação, bem como a subida constante dos preços dos principais serviços e produtos da cesta básica.
Em consequência, as famílias perderam poder de compra. “Estamos a atravessar um momento muito difícil porque as coisas subiram em termos de preços. Neste momento, o saco de arroz disparou, da fuba e da massa também. Este vencimento não chega mesmo para nada”, lamenta David António, outro habitante da capital angolana.
Sobreviver do lixo
Nas ruas de Luanda, multiplicam-se os vendedores ambulantes e pessoas que dependem dos contentores de lixo para sobreviver.
José Manuel diz que, apesar de se viver uma paz efetiva, a fome ainda faz parte do dia-a-dia de muitos angolanos. “Não vamos tapar o sol com a paneira, mas a fome aqui é mesmo muito notória”, sublinha.
O morador de Luanda lamenta ainda que haja crianças a comer na rua e famílias a passar por muitas dificuldades. “A fome é imensa. O Governo tem tudo feito para inverter essa situação, mas há ainda muito por se fazer para se mudar este aspeto”, diz.
Falta paz social
Para o politólogo Agostinho Sicatu, há uma clara ausência de paz social. “Há estabilidade política, mas há instabilidade social por conta da situação deficitária em que muitos cidadãos vivem”, observa.
O analista acrescenta que a falta de resultado das políticas públicas deve-se à ineficiência da sua execução. “Muitas das políticas públicas são suficientemente bem elaboradas. O problema maior tem sido, essencialmente, a aplicação e a gestão de políticas públicas”, explica.
Angola ainda tem muitos desafios pela frente como, por exemplo, a desvalorização do kwanza face à moeda estrangeira. Também se multiplicam os apelos dos angolanos para a inversão do quadro.
“Apostar mais na agricultura, acima de tudo, porque não haveria assim muitas dificuldades. E também apostar mais na juventude”, pede em Luanda o morador José Manuel.
E David António junta-se ao coro: “O apelo que deixo é que o Estado veja a questão dos trabalhadores porque este vencimento que recebemos, que é o básico, não é suficiente mesmo. Nem para alimentação chega.”
Apesar das dificuldades, Angola celebra hoje 22 anos de paz. O ato central acontece na província do Huambo.
Fonte: DW