O representante local dos Direitos Humanos, Jordan Muacabinza, disse que o jovem identificado por Amado João Mulesse, de 23 anos de idade, foi morto à queima-roupa e mais tarde carbonizado por agentes da polícia depois de ser surpreendido com material artesanal de extração de diamantes.
A ação da polícia, ainda segundo Muacabinza, terá sido motivada pelo fato de os residentes terem decidido levar o cadáver carbonizado à esquadra local da corporação em sinal de protesto, .
Aquele ativista descreveu o ambiente vivido na noite de ontem e manhã desta quinta-feira como sendo de “pânico e de violência”, confirmando as imagens que circulam nas redes sociais.
Agente da polícia preso e corporação abre investigação
“Há detenções e muitos feridos por identificar incluindo uma criança que foi atropelada por motociclista da polícia por altura da debandada”, concluiu Jordan Muacabinza.
Entretanto, o comando provincial da PN nda Lunda Norte informou ter aberto “um processo de averiguação” para apurar os reais motivos que estiveram na base do “incidente táctico policial”, apelou à calma e endereçou condolências à família.
Em declarações à Voz da América, o porta-voz, superintendente Domingos Muanafumo, disse que o presumível autor está detido para consequente responsabilização criminal e disciplinar.
Muanafumo justificou os confrontos ocorridos nesta quinta-feira,14, com o fato de a população ter transportado o cadáver até à esquadra policial e de ter feito barricadas e queima de pneus na via pública “num ato de rebelião”.
A UNITA, o maior partido na oposição, exigiu a responsabilização dos implicados, de acordo com o deputado Joaquim Nafoia.
“Aquilo é um matador humano”, acusou Nafoia numa referência ao Cafunfo, região conhecida por revoltas de populares contra a polícia.
Cafunfo 2021
Em Janeiro de 2021 as autoridades angolanas tinham classificado como “rebelião e tentativa de assalto” à esquadra da região vizinha de Cafunfo, os tumultos registados e de que resultaram na morte de cerca de dezenas de pessoas.
Na sequência daquela ação, o Ministério Público (MP) acusou o líder do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, José Mateus Zecamutchima, e mais 25 manifestantes envolvidos em protestos foram julgados e condenados “pela prática dos crimes de ultraje ao Estado e seus símbolos e associação de malfeitores”.
Zecamutchima foi apontado como o cabecilha deste alegado “ato de rebelião”, que para os cidadãos locais era uma “manifestação pacífica”.
Aquele ativista foi, então, condenado a uma pena de quatro anos de prisão, mas em março de 2023 um tribunal ordenou a sua libertação ao abrigo de uma amnistia governamental.