O Dia Internacional da Família, comemorado a 15 de maio, deveria ser uma ocasião para celebrar o núcleo fundamental da sociedade. No entanto, em Angola, a data passa quase despercebida devido às severas dificuldades econômicas e sociais que afligem muitas famílias, contribuindo para a sua desestruturação.
A pobreza extrema é uma realidade que condiciona profundamente o desenvolvimento das famílias angolanas. Segundo o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, cerca de metade da população do país vive abaixo da linha de pobreza. Este cenário de empobrecimento massivo impacta negativamente as dinâmicas familiares, aumentando a incidência de fome, que se torna um dos maiores desafios para a coesão e estabilidade das famílias.
Além da pobreza, a crise de valores também desempenha um papel significativo na erosão dos laços familiares. Problemas como desrespeito mútuo, abandono de responsabilidades parentais, gravidezes precoces, abuso de substâncias, desconsideração pela dignidade humana e violações sexuais estão entre os fatores que fragilizam a convivência social. Estes problemas são agravados por políticas públicas ineficazes e desiguais que falham em abranger e proteger adequadamente as camadas mais vulneráveis da população.
A falta de estrutura familiar é apontada como uma das causas principais que levam os jovens, especialmente em sociedades menos desenvolvidas como a de Angola, a se desviarem para a marginalidade. Projeções preocupantes sugerem que, se a situação atual persistir, Angola poderá liderar a lista de países com altos níveis de criminalidade em um futuro próximo.
Infelizmente, a instituição familiar em Angola enfrenta desafios significativos não apenas por conta da pobreza, mas também devido à ação de departamentos governamentais como o MASFAMU, que, apesar de sua missão de promover o bem-estar da família e combater a pobreza, não o faz e tem sido alvo de denúncias por desvios de verbas.
É importante que o governo criar políticas e estratégias de empoderamento das famílias pelo papel significativo que estas devem desempenham na economia do país. Consideradas o núcleo da sociedade e agentes económicos vitais, as famílias não só devem ser vistas na perspectiva do consumo mas também para a produção de bens e serviços, por meio da criação de empresas familiares que geram empregos e fornecem força de trabalho ou por outras vias.
Neste Dia Internacional da Família, mais do que uma celebração, o momento exige uma reflexão profunda e ações concretas para reverter a crise que ameaça o futuro das famílias em Angola. É imperativo que o governo e as organizações da sociedade civil trabalhem juntos para fortalecer as políticas sociais e econômicas que possam restaurar a estrutura familiar e promover um desenvolvimento sustentável que beneficie todos os angolanos.